Respira fundo, dizia ela enquanto abria uma garrafa de vinho tinto, vais ver que as coisas vão mudar, talvez amanhã, não sei. A rolha a roçar no gargalo guinchava, apertada. Não te quero ouvir, não acredito em ti. Riu-se, enquanto o servia. Por que te ris? Bebeu um pouco e atirou o copo contra a parede. Parecia sangue a escorrer. Não me ouves?
Nunca o ouviu. Estava sempre ocupada a fazer coisas importantes, inadiáveis, não que fossem úteis, mas eram sem dúvida importantes. Ainda hoje está. Não fala com ninguém, apenas se ri. Também chora quando tem vontade.
A luz apaga-se e ela continua a rir. Volta a acender, a sala está vazia. Mas a parede branca continua manchada. As paredes deviam ser vermelhas, um vermelho quente como vinho tinto, como sangue, como as rosas daquele jardim onde ia tantas vezes.
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