Actos espontâneos, apetece ao entardecer, na ânsia de uma página por agendar.
O passo sempre apressado guiou-o àquele bar que outras memórias tinha, mas para se ver sentado, cheio de orgulho, numa mesa vazia. Com a primeira imperial vieram os projectos delineados numa folha de jornal, com música e outras vidas que julgava desconhecer. Deixou-se ficar para mais uma, enrolando os bigodes lúcidos, observava nos outros um pouco de gente, de si e das suas vontades.
O que alguns chamavam de lavar roupa velha, ele via como um acto de reciclagem de emoções. Rejeitar outro pela indisponibilidade emocional não obriga à fuga de tantas outras que o caracterizam. Alguns procurou, outros acenaram com um sorriso, e no final do dia tinha tudo, menos a rotina solitária do seu telhado.
Provou gelado com sabor a nata e morango e riu-se desse acto inocente, sentindo-se. Depois lembrou-se que não provava, era antes o degustar de um momento, tantas vezes encontrado nas próprias raízes; essas que tocam outras, que crescem numa tentativa de alcançar o mundo!
Confiou-me, nessa mesma noite, ser o felino mais feliz dos telhados de Lisboa, quase ronronando olhos cheios de lua. Na consciência da efemeridade desses actos quase instantâneos, fez-se prometer que, com empenho, alguma vontade e um pouco de sorte, faria dos sonhos de ontem os projectos de amanhã.
Talvez viesse a ter um nome, um nome só dele. Mas isso já é outra história.
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