segunda-feira, setembro 21, 2009


Espiral

É o Mundo não outro que pequeno quintal
Nosso, deles, de ninguém ou de si mesmo
Em profundo pensamento estéril.
O Mundo é uma espiral ao meu olhar
E o que sou encerra-o num esgar soturno
Para que cuspa o sangue e a fome;

Essas palavras são de fome e não de sede
Porque sede tenho eu e não bebo.

Face ao mundo que não é
De tudo aquilo que eu não sou - fui - serei
Porque não me sou, nunca me sou;
Uma espiral que não encerra o seu gesto circular.
Sou uma espiral de argolas irregulares
Não de argolas, que não se unem
Como eu não me uno ao mundo, nem a mim nem a ninguém,
Vou-me reinventando sem escrúpulos
Sem sentido de metamorfose.

E o mundo é pequeno quando o atravesso
As ruas são pequenas, os cafés são pequenos
As almas são pequenas e assim as palavras.
Eu, que não sou grande, não consigo ter espaço
Não consigo respirar entre tanta gente,
Um sentimento de claustrofobia que se repete
Entre as mesmas máscaras pintadas de branco
Tão complexamente vazias na sua fútil existência.

É o mundo pequeno e as pessoas pulgas,
Parasitas de máscara branca com olhos de porcelana,
A vazia igualdade expressiva - sugam vida
Não a sua, mas entre si, canibalescas
Consomem-me também
Se adormeço no seu tédio de existir,
Não me sabendo ser se não no recomeço
A espiral a que me faço ser repetidamente
Sem nunca ter nascido, sem nunca vir a morrer,
Porque não sei ser outro que não isto
Num mundo pequeno como os seus,
De pequenas vontades e destreza para sonhar.

Todos pequenos, todos iguais, num qualquer sítio
Talvez numa espiral, talvez;
Talvez bebendo mais um copo
Esquecendo vidas tão pequeninas;
Quase podia sorrir pois não as teria de ver,
Essa histeria de viver sem uma história.

Glória, ó Glória povinha
Que se assombra nos astros de ontem
Uma sombra perdida na sua noite
No mais profundo silêncio

O Mundo é excessivamente pequeno