segunda-feira, dezembro 31, 2007


Sufoco

A noite consome-me a vontade de ser
E como uma maré afasta-me da margem,
Para o mais profundo e negro pensamento
Que alguma vez em mim surgiu,
Afundando-me no medo de viver.

E o corpo treme e vacila
Com o sufocante batimento do desespero,
Enlouquecendo a razão que resta em mim
Porque ousei o capricho de amar!

Rasgo a pele para que não me dê
Aos prazeres obscuros do desejo
E cravo na carne as palavras obscuras,
Para que não tas entregue;
Não quero ser igual aos outros.

Pudera eu arrancar o coração,
Consumido pelo fogo insano,
E espremer todas as vontades
Até que nada restasse deste enredo…

Peço apenas que na morte,
Se a pobreza alheia não o impedir,
Queimem este meu corpo,
Libertando a alma e suas memórias
Das correntes de toda uma vida.

terça-feira, dezembro 11, 2007


Vulgaridades

Hoje vi morrer um ser
Insignificante para uns,
Mas motivo de inspiração
Para os que vivem na emoção
De viver todos os dias
Como o primeiro do Mundo.

O Sol mostrou-se tímido,
Arrefecido pelo suave vento,
Gélido como as pessoas;
Fazia rodopiar as folhas
Despidas das árvores adormecidas
Pelo decorrer do velho tempo.

Foi nesse instante que vi,
Entre as dançantes folhas,
Uma pequena borboleta
Que ziguezagueava solitária
Numa luta persistente,
Confundindo-se em tons castanhos;

Observei-a por momentos,
Invejando a força e determinação,
A audácia de ser pequena,
De ser livre, em cores outonais!
Pudera eu um dia ser como ela,
Encanto de alma inocente…

Mas tudo o que é puro
Tem no Mundo um destino de morte.
E que má sorte a deste ser
Que tão pequeno enfrentou
A máquina criada pelo Homem
Sofrendo a tragédia esperada.

Da antiga graciosidade
Nada restou – desapareceu
Deixando o rasto sinistro
Da pureza devassada
Pela artificialidade humana,
Acontecimento já vulgar.

Ninguém a chorou ou notou;
A esta gente tudo é indiferente
Quando é pouco o sangue derramado;
Não dá conversa de escada
Nem exalta a curiosidade.
É apenas silêncio e cegueira.