segunda-feira, dezembro 31, 2007


Sufoco

A noite consome-me a vontade de ser
E como uma maré afasta-me da margem,
Para o mais profundo e negro pensamento
Que alguma vez em mim surgiu,
Afundando-me no medo de viver.

E o corpo treme e vacila
Com o sufocante batimento do desespero,
Enlouquecendo a razão que resta em mim
Porque ousei o capricho de amar!

Rasgo a pele para que não me dê
Aos prazeres obscuros do desejo
E cravo na carne as palavras obscuras,
Para que não tas entregue;
Não quero ser igual aos outros.

Pudera eu arrancar o coração,
Consumido pelo fogo insano,
E espremer todas as vontades
Até que nada restasse deste enredo…

Peço apenas que na morte,
Se a pobreza alheia não o impedir,
Queimem este meu corpo,
Libertando a alma e suas memórias
Das correntes de toda uma vida.

terça-feira, dezembro 11, 2007


Vulgaridades

Hoje vi morrer um ser
Insignificante para uns,
Mas motivo de inspiração
Para os que vivem na emoção
De viver todos os dias
Como o primeiro do Mundo.

O Sol mostrou-se tímido,
Arrefecido pelo suave vento,
Gélido como as pessoas;
Fazia rodopiar as folhas
Despidas das árvores adormecidas
Pelo decorrer do velho tempo.

Foi nesse instante que vi,
Entre as dançantes folhas,
Uma pequena borboleta
Que ziguezagueava solitária
Numa luta persistente,
Confundindo-se em tons castanhos;

Observei-a por momentos,
Invejando a força e determinação,
A audácia de ser pequena,
De ser livre, em cores outonais!
Pudera eu um dia ser como ela,
Encanto de alma inocente…

Mas tudo o que é puro
Tem no Mundo um destino de morte.
E que má sorte a deste ser
Que tão pequeno enfrentou
A máquina criada pelo Homem
Sofrendo a tragédia esperada.

Da antiga graciosidade
Nada restou – desapareceu
Deixando o rasto sinistro
Da pureza devassada
Pela artificialidade humana,
Acontecimento já vulgar.

Ninguém a chorou ou notou;
A esta gente tudo é indiferente
Quando é pouco o sangue derramado;
Não dá conversa de escada
Nem exalta a curiosidade.
É apenas silêncio e cegueira.

sexta-feira, novembro 09, 2007


Suspiro Vegetativo

Sinto-me cansado de tanto cinzento.
É esta cor cinzenta, feita de pedra
Que me rodeia e se inclina cobre mim
Como se me quisesse derrubar.

E como se não fosse de mais,
Nesta densa praga doentia
Ouvem-se gritos, ruídos tenebrosos,
Ensurdecedores de qualquer raciocínio!

Aqui até o ar pesa e o vento suja;
A chuva queima nesta selva infernal
Onde tudo é fútil e artificial!

Somos súbditos do tempo
Numa corrida de rotina desenfreada,
Esgravatando na sanidade por dinheiro.

Insano, vagueio neste assombro
Buscando um pouco de vida
Que não tenha sido corrompida
Por este estranho e sinistro sistema;

Até o escasso verde que encontro
Me cheira a fantasmas de plástico!
Não fosse o original causar alergias,
Porque o que sobrevive parece repugnar…

Talvez um dia a nossa Mãe se zangue
E mostre que a lábia do Homem não chega
Para mudar o castigo merecido;

Os avisos já não bastam a estas almas,
De tão loucas que se tornaram;
Já nem medo sentem – são vegetais.

sexta-feira, novembro 02, 2007


Com quantas cores se pinta um sonho?

Com quantas cores se pinta um sonho?
Deixo que a minha alma se tinja,
Trespassada pela vida de um arco-íris.

Tenho sede, sede de mar, sede de amar,
De molhar os pés na água salgada
E envolver-me na espuma das ondas,
Esperando que o meu corpo se dissolva
Para fazer parte da sua imensidão.

Misturam-se as cores em tons suaves,
Tons de azul cor-de-céu-e-mar,
A areia morna do sol, o branco das ondas;
Começam a diluir-se em traços e curvas
Numa grande tela vazia.

Preciso de ar, ar de floresta densa,
Respirar e sentir esta dança,
Dança de aromas puros e virgens;
O toque suave do vento nas flores:
Cores que voam, fadas talvez…

Misturam-se as cores em tons vivos,
Cores silvestres que se diluem
Com a suavidade do mar
Numa cumplicidade intensa,
Preenchendo a grande tela sonhadora.

O sonho é de todas as cores do arco-íris
Numa mistura pura que cria o elo
Entre a alma, a fantasia e a vida:
Uma ponte, parte de mim para um todo,
Até onde eu conseguir sonhar!


Possível Fórmula da Vida

Pergunto-me numa noite sem lua,
De ventos despertos e alma nua:
Com que gestos se cria a vida
Para além da concepção já conhecida?

Há quem lhe atribua origem divina,
Outros, pela complexa ciência;
Mas o que há para lá do orgânico?

Quero ser criança novamente
E imaginar a fórmula secreta:

Dar-lhe-ia um pouco de fantasia,
Um sorriso sincero todos os dias
E algumas nuvens passageiras,
Para crescer e aprender
A ultrapassar as barreiras;
Para que nada viesse a faltar
Curiosidade para o mundo explorar;
Uma flor, um momento a desfrutar;
Amor, alguém para abraçar;
O mar, o horizonte, o respirar;
A paz, a força para o mundo mudar;
Esperança, para nunca desistir sem lutar…

Tantas coisas juntaria nesta receita,
Mas a imaginação já é pouca
E nem sempre nos ficam os traços de criança;
Sobraram hoje apenas alguns minutos…

sexta-feira, outubro 19, 2007


Já cheira a Outono nas ruas de Lisboa.
O aroma suave a castanhas assadas
Envolve-nos os sentidos gulosos;
Ainda que de aspecto tosco de carvão
(que não lhes retira o bom gosto)
Fazem as delícias de uma tradição inflacionada.

segunda-feira, outubro 08, 2007


Murmúrios

Existe sempre algo cujas palavras não chegam
Para descrever um simples momento
Cuja complexidade depende de como o olhamos,
De como o vivemos e sentimos,
Do valor que damos ao tempo.

Não tenho como traduzir a ansiedade
Que me enfraquece a razão;
É como sentir quatro paredes fecharem-se
Lenta e dolorosamente em torno do meu coração,
Impedindo-me de respirar, sufocando-me;

Sinto-me sufocar a cada segundo
De um relógio sem corda,
Mostrando-me a solidão que envolve a alma
E a sela num corpo inconsciente e pesado
Sem asas para voar…

Podia projectar um rio de água cristalina,
Uma flor repleta de cor e vida,
Uma ponte que levar-me-ia para o outro lado,
Um sonho de criança
Ou um sopro de fantasia e esperança;

Mas diante destes olhos de vidro
Vejo a lama e o lodo,
O luto da morte,
As ruínas, o medo e a insegurança;
Murmúrios perdidos numa mágoa vã…

segunda-feira, setembro 24, 2007


Agonia Mímica e Muda

Vejo nestes olhos a alma profunda
Reflectida nas sombras da noite;
Vejo-me perdido neste espelho
Num género de solidão – o vazio.

É a saudade da própria inocência,
Um espírito que pede clemência
Gritando dentro do meu peito:
Gritos mudos e mímicos…

Eis que o sonho se perde na floresta
Densa e escura – chora, foge da besta
Que reside algures na mente inconsciente
Como um anjo ridículo e mortal;

Ergue a face molhada para a lua;
Pérolas que caiem como orvalho
Nas pétalas das flores serenas…
Esconde a dor para que ninguém a veja!

É por esta fraqueza que o corpo reclama
Ou se deixa lentamente morrer,
Para que não sinta a agonia de viver
Sem a antiga força, sem aquela chama…

quarta-feira, setembro 05, 2007


O Meu Funeral


Mas que trágico para um jovem como eu, que completou apenas os seus 20 anos, pensar no momento após a sua morte. Não me julguem doido ou sinistro, apenas pus-me a pensar, enquanto o sono não vinha, como seria após o fim da minha vida. Irei então descrever como imaginei o meu funeral e o meu enterro, caso morra novo, em tempos próximos.



Quem entrar na sala poderá sentir o doce aroma do incenso oriental que estaria a arder perto do meu caixão, em dois potes cheios de areia e cinzas. Estes poderiam ser grandes e pequenos, desde que se mantivessem ao nível do caixão. Juntamente com o incenso, músicas que relembram a natureza iriam envolver todo o espaço, suavemente, transmitindo paz para quem entrasse na sala.
Não iriam encontrar a trivial sala escura, mas sim uma sala bem iluminada e arejada, decorada em tons claros. A separar a câmara de convívio daquela onde estaria o meu caixão estariam grandes cortinas brancas e leves presas com fitas azuis turquesa.
Ao aproximarem-se no meu caixão, poderiam ver-me adormecido, vestido de branco com um manto azul-marinho, descalço, segurando um ramo de lírios brancos, presos com fitas de várias cores: azul-bebé, rosa-bebé, amarelo, laranja, vermelho e cinzento, com um grande laço em fita vermelha no centro. Todo o interior do caixão estaria forrado a branco com areia e conchas perdidas no fundo e algumas pétalas de rosa.

Regras para quem quiser ir ao meu funeral:

1- Ir vestido em tons claros e simples (nada de preto ou cores escuras);

2- Não chorar desalmadamente ou evocar por mim;

3- Ir com uma fita no pulso, correspondente à ligação que tem para comigo:

Azul-bebé – pai
Rosa-bebé – mãe
Amarelo – familiar
Laranja – amigo
Vermelho – quem amei antes de morrer
Cinzento – conhecido

(nota: em alguns casos poderão levar pais que uma fita; ex: um familiar com o qual tivesse uma relação de amizade levaria uma amarela e outra laranja; um familiar com o qual eu não tivesse muita ligação levaria amarela e cinzenta, etc…)

4- Não fazer do funeral um arraial ou uma sala de tricô;

5- Não beijar, acariciar ou mexer no meu corpo morto.

Gostaria também de ser enterrado num cemitério bonito, com jardim. As regras para o enterro serão as mesmas do funeral e, no momento antes de taparem o caixão, quem quiser, não atira terra como se costuma fazer, mas pétalas de flores. Não quero que ninguém veja o caixão a ser coberto de terra, pedia que os presentes se fossem embora antes de tal acontecer.
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Bom, e assim termino a descrição de como gostaria que fosse o meu funeral e enterro. Tentei fazê-lo de forma simples para não se tornar um texto muito longo.
Há quem pense em muitas coisas antes de dormir, nas contas que tem para pagar, no dia que teve, no dia seguinte, no jantar, etc… Eu tenho pensado nisto, nas últimas noites. É estranho, mas não é de todo desagradável, até tem o seu lado engraçado. Pergunto o que diria um psiquiatra…








segunda-feira, agosto 27, 2007


Eu, o sonho e a vida

Eternas me pareceram as noites
Que percorri na ânsia de encontrar
Algo cuja memória já não alcançava;
Procurava incessantemente o nada,
Perdido como um naufrago em alto mar.

Vejo hoje a alvorada resplandecente,
Coberta de vida e algo mais,
Algo que não poderei traduzir por palavras,
Apenas o coração e a alma o sente.

Quero ser mármore branco!
Esculpir-me com as mãos que inventei,
Sem esquecer que a perfeição
Não é mais que uma ingénua ilusão
De quem vive para os outros,
Os mesmos que nos irão esquecer…

Não poderei ser eu
Sem aprender a ver o encanto
Perdido no que dizem ser feio;
O olho que não vê por receio
Perde-se no que é superficial,
Na camada exterior,
A mesma que esconde a verdadeira essência.

Quero ir além das aparências!
Dar forma aos sonhos,
Libertar-me das amarras do preconceito
Sem recear do que os outros pensam
Para que não hajam barreiras
Entre mim, o sonho e a vida…

quinta-feira, agosto 23, 2007


Noite de Mudança

Esta noite não irei sonhar;
Procurarei aquele sono profundo
Tão meu como a dor de acreditar
Que um dia serei parte deste mundo.

O mundo gira e cresce,
Gira de novo e envelhece;
O mundo é a peste
De quem nele nasceu
Simplesmente para morrer…

Esta noite não irei chorar
O eterno sal das tempestades;
Não me deixarei embater neste mar
Tão negro, tão frio como lajes.

O mundo gira e torna a girar,
Sempre igual, sempre diferente;
Gira de novo, finge que é gente,
Albergando a hipocrisia
Coberta por uma suave mentira.

Esta noite irei selar as mágoas
Para que nesta vida criança
Passem outras cores, outras águas…
Esta é a hora da mudança!

O mundo gira mais uma vez
E aceita fados sem porquês;
Gira louco e vão
Sem alma ou coração.
Enquanto gira, eu ficarei atento…

…talvez aprenda algo…

terça-feira, agosto 14, 2007

O Sem Nome

Eu sou um sem nome,
Viajante das terras adormecidas
Onde sonhos e mórbidos pesadelos
No segredo habitam;

A solidão levou-me
Por memórias esquecidas
E mostrou-me os medos
Que aprisionara na escuridão.

Perco-me por labirintos obscuros
Traçados pelo fracasso de uma vida vã;
Apenas se ouvem sussurros
De almas sem amanhã…

Caminho pela noite negra,
Sem lua, sem estrelas,
Sem luz, sem esperança
Nem presságios de bonança…

Eu sou aquele que se perdeu,
Vagabundo e louco,
Na fé de outros tempos
E que agora se deixa morrer;

Lembro quem me prometeu
Da vida mais um pouco
Que breves momentos;
A promessa de renascer…

A chama ardente
Lentamente se afoga
Nas cinzas humedecidas
Pelas lágrimas perdidas!

Eu sou um sem nome,
Ser do esquecimento,
Aquele a quem o amor repugna
Pela dor e sofrimento…

domingo, julho 29, 2007


Um Novo Dia

Tantas foram as noites
Que em pranto tentei esquecer;
Frias e sem lua,
Noites feitas para sofrer.
Soubesse eu escutar
Os murmúrios do vento fugitivo
Para a minha dor atenuar
E libertar-me das amarras impostas
Pela loucura do amor…

A noite é sempre longa,
Mas não eterna;
Surgem no horizonte,
Tão distantes, tão longínquos,
Pequenos raios de luz
Que atravessam
Lentamente
O mar negro
E trespassam a densa floresta,
Tingindo-os de vida.

Não, não era o sol.
Volto a fechar os olhos;
É a loucura que me engana os sentidos!
Outra ilusão feita de crueldade,
Mais um espinho de aço que me fere;
Esvaio-me em sonhos,
Sinto-os cair, dissolvidos em lágrimas,
Fazendo germinar mais amarras,
Mais espinhos…

O condenado perdeu-se
O condenado espera pela morte
Deixai-o para que o medo o consuma
Deixai-o morrer na terra fria e escura
Venda-lhe os olhos
Venda-lhe o espelho da alma


O silêncio da noite absorve-me.

Oiço algo distante
Aproxima-se;
Talvez seja a morte,
Talvez me venha aliviar a dor…

Sinto as amarras desfazerem-se
E o meu corpo elevar-se
Sacudido pelo vento forte;
Não tenho frio,
Algo me segura a mão e me aquece.
Não vejo, deixo-me permanecer no silêncio
Entregando-me ao cansaço.

Desperto estendido no chão;
Levanto-me e deixo cair o pano negro
Que me vendava os olhos.
Não sei onde estou!
Quem és?
O teu corpo, banhado pela lua,
Aproxima-se serenamente;
Aconchegas-me,
Seguras novamente a minha mão
E observas-me silenciosamente.

De nada valem as palavras
Apenas o momento


Os teus lábios tocam nos meus,
Sinto o seu doce sabor;
Uma onda de calor atravessa o meu corpo
Enquanto sinto a graciosidade do teu toque
Onde estou?

Não interessa onde, não estás só

Não quero acordar,
Quero sonhar eternamente.

Não é um sonho…

Posso agora ver o nascer de um novo dia
E com ele renascer, sonhar e viver…
Sinto a voz do vento segredar-me ao ouvido:

Sente de novo os teus sonhos
Segue-os
Não estás só
Nunca mais…

sexta-feira, julho 27, 2007

Fruits Basket - Happy Times!

Um sonho pode sempre renascer
Das cinzas presentes de outrora
Onde uma chama o fez morrer
No passado vestido de negro.

Ainda há quem diga que é sorte;
Coisa de fracos e pobres almas.
A força que nos move para a vida
É apenas nossa, não de sortes falsas…

sexta-feira, julho 20, 2007


Água e Sal

É nas sombras que criei,
Com a tua fiel ajuda,
Que agora me perco
Em devaneios e arrependimentos.

As angústias são a minha fome,
Pela crueldade de ser, hoje,
Alguém indiferente
De quem esqueceu que sou gente.

Foram tantos os sonhos
Que te lembrava todos os dias
E tu docemente sorrias
E enternecias-me a alma…

Agora seguro uma vida,
Em mãos trémulas e frágeis,
Sentindo a mudança horrenda
Feita dos meus medos.

Perde-se a inocência,
Os sonhos, a fantasia, a alegria!
Ficaram-me o medo e o vazio,
Inundados de água e sal.

terça-feira, julho 17, 2007


Adeus à Liberdade

Hoje digo “adeus” à liberdade…
Estranha palavra enleada
Pelos finos fios de fantasia
Que tecem a trama da utopia;
Brilha, cintilante, para os olhos cegos
De um povo embrutecido pela ganância.

quarta-feira, julho 04, 2007

AMV - In My Mind

Ainda que a memória seja traiçoeira
E se desvaneça no escuro esquecimento
Jamais irei esquecer de ti
A ternura de cada momento
Em que enlaçámos em suspiros
O amor e a cumplicidade

sexta-feira, junho 29, 2007


Numa Noite Escondida

Numa noite escondida
Solta-se um suave sorriso
Que rapidamente se dissolve
Entre emoções ingénuas
Trazidas pela cúmplice descoberta…

Ouvem-se sussurros discretos
Que denunciam a verdade;
Os corpos vacilam de desenho,
Mas não há contacto de pele,
Apenas palavras soltas…

…são como estrelas no céu!

Até onde poderei trocar sonhos
Numa distância de medos,
De vazio e de ausência?
Pudera eu ganhar asas
Iguais às tuas, fortes,
Para te poder alcançar…

…ser teu na eternidade.

Não poderei ser como desejo
Porque a alma sofre amordaçada,
Esperando que, um dia,
O conto de fadas se realize
Como que por magia…

quinta-feira, junho 28, 2007



Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade
- Sigmund Freud -
~ COMENTÁRIO ~

A escolha deste livro, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, de S. Freud, deveu-se à curiosidade que o mesmo me suscitou. Já tinha ouvido alguns comentários relativos ao mesmo, que diferenciavam consoante o locutor. Havia quem fundamentasse os seus argumentos, relativos à sexualidade, com algumas ideias deste livro, assim como quem o repudiasse.
É sem dúvida um livro interessante e de fácil leitura. Freud preocupa-se em nos transmitir as suas ideias num discurso simples, onde nos explica cada palavra científica ou termo que utiliza. Contudo, tive bastantes dificuldades em resumi-lo, visto que aparenta já ser um resumo e pela complexidade de informação.
Concordo com algumas das teorias apresentadas por Freud, como os impulsos parciais e as zonas erógenas, alguns aspectos da sexualidade infantil, nomeadamente a masturbação, a teoria da libido e algumas das transformações da adolescência a nível sexual.
Por outro lado, discordo e acho totalmente obsceno algumas das ideias de Freud, talvez por influência social da minha parte.
Começando pelo próprio título do primeiro ensaio, há algo que cria, na minha consciência, uma certa repulsa contra o que li de seguida: “aberrações sexuais”. Um homossexual não pode ser visto como uma “aberração sexual”, ou intitulado como “invertido”, ou como um “desvio” dos padrões do que chamam de “normal”. Gera-se, portanto, uma pergunta óbvia: o que é ser-se “normal”? Talvez a resposta, aos olhos de Freud ou da maioria das pessoas, seria: um comportamento que estivesse de acordo com a maioria dos indivíduos numa dada sociedade, com as “normas” estabelecidas por esta. Ainda assim acho um termo muito grosseiro para intitular um comportamento tão antigo e tão comum nos dias de hoje. Também acho absurdo afirmar que os nevrosados têm fortes tendências para serem homossexuais. Esta afirmação generalizadora pode levar-nos a pensar que, numa ordem inversa, grande parte dos homossexuais sofrem de problemas psíquicos graves. No meu entender, um homossexual tem tantas hipóteses de sofrer de algum problema a nível psicológico como qualquer heterossexual.
Outro dos aspectos em que discordo de Freud é pelo facto de ele transformar as crianças em seres detentores de uma evolução sexual perversa. A criança surge como um ser livre de toda a sua inocência. Quando Freud afirma que a criança busca o seio da mãe para obter prazer, tanto a nível alimentar como sexual. Penso ser perfeitamente natural que uma criança demonstre que está a sentir prazer por estar a chuchar no seio da mãe, mas não a nível sexual. Se a criança apresenta determinadas necessidades e se tem fome, tal como um adulto terá prazer quando satisfizer essa necessidade alimentar ou de ternura, que é o colo e o aconchego maternal.
Por fim, discordo quando Freud afirma que a educação dos rapazes por pessoas do sexo masculino pode originar o desenvolvimento da homossexualidade, assim como o facto de um dos pais desaparecer. Conheço pessoas homossexuais diferentes que foram educados apenas pela mãe ou por outro elemento feminino, apenas pelo pai ou por outro elemento masculino, tanto pelo pai como pela mãe, ou por outros familiares. Torna-se muito difícil estabelecer um padrão que possa ter originado a homossexualidade.
Para todos os efeitos, é importante salientar que muitas das teorias de Freud têm a sua razão de ser e que são, na minha opinião, verdadeiras. Não nos podemos esquecer que o pensamento da época em que viveu era diferente do actual e que tudo o que fugia aos padrões da “normalidade social” era considerado como uma “aberração”. Daí que estudiosos actuais tenham outra visão distinta, nomeadamente no que diz respeito à homossexualidade.

quarta-feira, junho 27, 2007


Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade
- Sigmund Freud -

~ CONCLUSÃO ~

Freud termina o seus três ensaios sobre a teoria da sexualidade com uma conclusão em que faz um breve resumo de tudo o que havia sido tratado anteriormente, explicando alguns conceitos como factores que podem conduzir a perturbações no desenvolvimento, constituição e hereditariedade, elaboração ulterior, recalcamento, sublimação, experiências acidentais, precocidade, factor tempo, perseveração e fixação.
Termina o seu livro confessando que as suas investigações sobre a vida sexual formaram uma teoria incapaz de explicar suficientemente os caracteres normais e patológicos da sexualidade.

sexta-feira, junho 22, 2007


Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade

- Sigmund Freud -

~RESUMO~

[3ª parte]

3

As Transformações da Puberdade

Com o início da puberdade surgem transformações que conduzirão a vida sexual infantil à sua forma definitiva e normal. É dado agora um novo fim sexual, na realização do qual todos os impulsos parciais cooperam, enquanto as zonas erógenas se subordinam ao primado da zona genital. Este novo fim sexual determina também evoluções sexuais divergentes.

I – O primado das zonas genitais e o prazer preliminar
O desenvolvimento dos órgãos genitais fazem com que estes possam ser postos em actividade, por meio de excitações que podem nascer de três formas diferentes: ou provêm do mundo exterior pelo estímulo das zonas erógenas, ou procedem do interior do organismo por caminhos ainda desconhecidos, ou têm por ponto de partida a vida psíquica que se apresenta como um reservatório de impressões exteriores e um posto de recepção para as excitações interiores. Estes mecanismos manifestam-se por sintomas de ordem psíquica ou somática.
As zonas erógenas servem para criar, em consequência de uma excitação apropriada, uma certa soma de prazer, ponto de partida do acréscimo da tensão que, por sua vez, deverá fornecer a energia motora necessária para o acto sexual.
Segundo Freud, o prazer preliminar apresenta um certo perigo, relativo à realização normal do acto sexual, visto que pode tornar-se excessivamente grande enquanto a parte de tensão permanece excessivamente fraca.

II – O problema da excitação sexual
Quanto à origem e natureza da tensão sexual que acompanha o prazer no momento da satisfação das zonas erógenas, Freud admite que o prazer e a tensão sexual não estão ligados de uma forma directa, mas sim indirecta.
Existem indícios que permitem estabelecer uma conexão entre a tensão e os produtos genitais. O aparelho genital, ao longo da vida, liberta-se dos produtos genitais por períodos variáveis, mas com alguma regularidade; durante a noite, é comum realizar-se uma descarga acompanhada de uma sensação de prazer no decurso da alucinação de um sonho, representativo de um acto sexual. Para explicar este processo, Freud afirma que é possível sermos levados a pensar que a tensão sexual existe em função da acumulação de esperma nos reservatórios. Visto que quando as reservas seminais estão esgotadas não se consegue obter prazer, verifica-se que é necessário um certo grau de tensão sexual para que as zonas erógenas possam entrar em estado de excitação. Para todos os efeitos, estes comportamentos não podem ser consideradas em crianças, mulheres ou em homens castrados.
A parte intersticial das glândulas genitais produz matérias químicas de um carácter particular que levam certas partes do sistema nervoso central a um estado de tensão sexual.

III – Teoria da libido
A libido é uma força quantitativamente variável que permite medir os processos e as transformações no domínio da excitação sexual. Para além de um carácter quantitativo, a libido apresenta um carácter qualitativo.
Através da análise das perversões e das psiconevroses, Freud chegou à conclusão que a excitação sexual não provém unicamente das partes genitais, mas de todos os outros órgãos. Forma-se, então, a noção de uma quantidade de libido cujo representante psíquico seria aquilo a que se designa por a libido do eu. Uma vez que a libido do eu não é acessível à análise assim que se apodera de objectos sexuais, quando se torna libido objecto, Freud concluiu que seria necessária a concentração na libido objecto.
A libido do eu, destacada dos seus objectos, fica suspensa em condições particulares de tensão e reentra no eu. A transformação da libido do eu ganha importância quando se trata de explicar perturbações profundas de natureza psicótica.

IV – A diferenciação dos sexos
É no período da puberdade que se vê aparecer uma distinção nítida entre o carácter masculino e o carácter feminino. O desenvolvimento das inibições sexuais realiza-se muito cedo nas meninas, encontrando menos resistência que nos rapazes. Estas têm uma maior tendência para o recalcamento sexual. No entanto, a actividade auto-erótica das zonas erógenas é a mesma para os dois sexos.
A puberdade, que no rapaz leva ao grande impulso da libido, é caracterizada na rapariga por uma nova vaga de recalcamento, sendo que o que é recalcado é um elemento da sexualidade masculina. Este recalcamento sexual leva a que tenham as zonas erógenas mais insensíveis.

V – A descoberta do objecto
Durante o período de latência, a criança aprende a “amar” outras pessoas para que possa ver satisfeitas as suas necessidades. Esse “amor” é o reflexo das relações estabelecidas com a mãe durante o período de aleitamento, onde o objecto sexual era a sucção do seio materno. O facto da criança se mostrar insaciável na sua necessidade de ternura dos pais é, segundo Freud, um dos melhores presságios de um nervosismo interior; por outro lado, serão os pais nevropatas que, pelas suas carícias, despertarão na criança as predisposições para as nevroses. São estes comportamentos que mostram a hereditariedade das nevroses de pais para filhos.
É formada na criança uma barreira contra o incesto na medida em que, apesar de existir a predisposição da criança em escolher as pessoas que amou, a maturidade sexual ganhou tempo para edificar esta barreira através dos preceitos morais. Contudo, nos casos de psiconevrose, a actividade psicossexual em busca do objecto permanece no inconsciente.
Aquele que evitou uma fixação incestuosa da sua libido não fica, por isso, liberto da sua influência. Daí ser comum que, na primeira escolha de um objecto sexual, o adolescente escolha algo à imagem da sua mãe ou do seu pai.
Apesar da influência exercida pela sociedade, o homem pode ganhar tendências para a inversão. Esta é explicada por Freud no sentido em que o jovem, na sua infância, se tenha despegado muito cedo da sua mãe. Nos casos em que um dos pais desapareceu, a criança incide todo o seu amor na pessoa que lhe ficou. Existem também os casos em que é observável a não concretização da fase de Édipo, em que a criança cria uma certa hostilidade para com o elemento paterno.

quarta-feira, junho 20, 2007



Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade
- Sigmund Freud -
~ Resumo ~
[2ª parte]
2
A Sexualidade Infantil
I – O período de latência sexual durante a infância e as suas interrupções
Ao nascer, a criança trás consigo predisposições sexuais que evoluem durante algum tempo e que, depois, sofrem uma repressão progressiva, interrompida por surtos regulares de desenvolvimento ou paragens em consequências das particularidades do indivíduo.
Durante o período de latência criam-se inibições sexuais, causadas pela educação de uma sociedade civilizada. É natural que as tendências sexuais da criança continuem a existir no período de latência, mas que sejam desviadas para o seu uso próprio e aplicadas a outros fins.

II – As manifestações da sexualidade da criança
A criança pode manifestar comportamentos sexuais através da sucção ou do auto-erotismo e, em alguns casos, o puxar e agarrar o lóbulo da orelha de outra pessoa. O acto de chupar absorve toda a atenção da criança, adormece-a e pode mesmo levá-la a ter reacções motoras, numa espécie de orgasmo. Tal faz com que as crianças passem, muitas vezes, da sucção à masturbação.

III – O fim sexual da sexualidade infantil
O fim sexual do impulso da criança consiste na satisfação obtida pela excitação apropriada da zona erógena que a mesma elege como sendo a que mais lhe dá prazer estimular. O fim da sexualidade é substituir a sensação de excitação projectada na zona erógena por uma excitação exterior que a acalme e crie um sentimento de satisfação.
A zona erógena pode mudar consoante os conhecimentos fisiológicos adquiridos.

IV – As manifestações sexuais masturbatórias
A situação anatómica da zona anal torna-a própria para apoiar uma actividade sexual sobre uma outra função fisiológica. As frequentes perturbações intestinais das crianças alimentam, nesta região, um estado de excitabilidade intensa. As crianças que utilizam a excitabilidade erógena da zona anal revelam-se na retenção das fezes, fazendo com que a acumulação das mesmas provoquem contracções musculares intensas que, ao serem repelidas, provocam excitação. Um sinal de um futuro comportamento bizarro de carácter ou nervosismo é quando a criança, sentada na bacia, se recusa a expelir as fezes para obter, assim, um maior prazer. A retenção das fezes resulta na obstipação, frequente nos nevrosados.
Existem três fases* na masturbação infantil. A primeira corresponde ao período de aleitamento, no qual a criança obtém prazer quando mama no peito da mãe, um prazer que vai para além da satisfação alimentar. A segunda ao curto período de desenvolvimento da actividade sexual, por volta do quarto ano. Nesta, o onanismo do lactente parece desaparecer após um certo período e, quando persiste até à puberdade, pode dar origem a um desvio importante no desenvolvimento do indivíduo. Durante esta segunda fase da criança, a excitação sexual do período de aleitamento volta. O renovamento da actividade sexual está submetido a influências determinantes, endógenas e exógenas.
A criança, em consequência de uma sedução, está predisposta a actos perversos, que encontram resistências psíquicas. Nestas circunstâncias a criança comporta-se com o sedutor como se não tivesse, ainda, sofrido influências da civilização.
Por muito predominante que seja o papel desempenhado pelas zonas erógenas, compreende componentes que a levam a procurar, desde início, outras pessoas como objecto sexual. Entre estas componentes, Freud menciona as que levam as crianças a gostarem de ver e a serem exibicionistas, assim como o impulso para a crueldade. A criança, livre de pudor, mostra, nos anos da primeira infância, um prazer em descobrir o seu corpo e, em contrapartida, curiosidade em procurar ver as partes genitais de outra pessoa.

(* a terceira fase corresponde à puberdade)

V – As investigações sexuais da criança
Na época em que a vida sexual da criança atinge o primeiro grau de desenvolvimento (do terceiro ao quinto ano) começa a surgir o início de uma actividade provocada pelo impulso de procurar saber, não dependendo este exclusivamente da sexualidade. A sua actividade corresponde, por um lado, à necessidade de domínio e, por outro lado, utiliza como energia o desejo de ver.

VI – Fases do desenvolvimento da organização sexual
A primeira organização sexual é a pré-genital, na qual as zonas genitais ainda não impuseram o seu primado. Nesta fase, a actividade sexual não está separada da ingestão dos alimentos. Numa segunda fase pré-genital, sádico-anal, o elemento activo parece constituído pelo impulso de domínio, ligado à musculatura, e o passivo será representado pela mucosa intestinal erógena.
Segue-se a ambivalência, a qual pode substituir e exercer o seu domínio durante toda a vida.
A escolha sexual será feita em dois tempos, por dois surtos. O primeiro surto começa entre os dois e os cinco anos, ficando suspensa por um período de latência, caracterizando-se pela natureza infantil dos fins sexuais. O segundo surto começa na puberdade e determina a forma definitiva que a vida sexual há-de tomar. O adolescente não pode fazer a escolha de um novo objecto sexual senão depois de ter renunciado aos objectos da sua infância e quando uma nova corrente sensual aparecer.

VII – As fontes da sexualidade infantil
As investigações realizadas por Freud sobre as origens profundas da sexualidade demonstram que a excitação sexual nasce: pela reprodução de uma satisfação experimentada em relação com processos orgânicos não sexuais; por excitação periférica das zonas erógenas; pelo efeito de certos impulsos cujas origens são desconhecidas, como os impulsos de ver e de crueldade.
As zonas erógenas encontram-se mais ou menos por toda a epiderme. As sacudidelas e os movimentos rítmicos, provocam excitações diferentes, daí as crianças gostarem de certos jogos, como o baloiço, de serem embaladas para adormecer e até mesmo andar de transportes. A actividade muscular exercida livremente é, para a criança, uma necessidade da qual tira um prazer considerável. Muitas pessoas verificam que sentiram uma primeira excitação do aparelho genital durante as lutas corpo a corpo visto que, para além da tensão de todos os músculos, veio juntar-se a acção excitante dos contactos da pele do adversário. Este comportamento pode também dar origem a um impulso sádico.
Os processos afectivos também se reflectem na sexualidade ao atingirem um determinado grau de intensidade, assim como o trabalho intelectual.



Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade

- Sigmund Freud -



Irei apresentar, em diferentes post's, um resumo detalhado desta obra e respectivo comentário. Fiz este trabalho para a disciplina de Psicologia, o qual foi classificado entre os melhores de toda a turma e o melhor resumo da obra em si. O resumo está dividido por ensaios e respectivos capítulos. Espero que gostem.

~ RESUMO ~



1

Aberrações Sexuais

I – Desvios relativos ao objecto sexual
Freud intitula os homossexuais de invertidos, apresentando três tipos de inversão: os invertidos absolutos, cuja sexualidade tem como objecto sexual indivíduos do mesmo sexo; os invertidos anfigénios, mais conhecidos como bissexuais, cujo objecto sexual pode variar entre indivíduos de ambos os sexos; os invertidos ocasionais, sendo esta determinada pela ausência de um objecto sexual normal ou pela influência do meio.
A inversão pode manifestar-se desde muito cedo, fazendo com que não nos lembremos de quando se manifestou pela primeira vez, ou até mais tarde, podendo durar toda a vida ou ser momentânea. É também visível uma certa oscilação entre o objecto sexual normal e o objecto sexual invertido. A libido orienta-se muitas vezes para a inversão após uma experiência dolorosa feita com um objecto sexual normal.
A inversão, inicialmente, foi considerada como sintoma de uma degenerescência nervosa congénita, devendo estas duas afirmações serem julgadas separadamente. Segundo Freud, apenas podemos falar em degenerescência quando se encontra a inversão em indivíduos que não apresentam outros desvios graves ou em indivíduos cuja actividade geral não é perturbada, e cujo desenvolvimento moral e intelectual pode mesmo ter atingido um grau muito elevado. Também considera a inversão como sendo congénita, nos invertidos absolutos, mas devido ao facto de existirem outros dois tipos de inversão, também podemos admitir que esta é adquirida. Para todos os efeitos, nenhuma explica a sua natureza. Para a primeira hipótese, teríamos que admitir que a inversão é inata, ou seja, que existiria, ao nascer, um instinto sexual já ligado a um determinado objecto sexual. Na segunda hipótese coloca-se a questão de saber se as diferentes influências acidentais bastariam para explicar o carácter adquirido.
Na inversão não podemos admitir a teoria do hermafroditismo somático, visto que, em alguns casos, estão presentes caracteres de virilidade. Para explicar a inversão Freud aponta duas ideias a reter: temos de contar com uma disposição bissexual; não sabemos, porém, qual o seu substrato anatómico. Trata-se de perturbações que modificam o impulso sexual no seu desenvolvimento.
Nos invertidos, a criança pode tornar-se o seu objecto sexual quando este se torna cobarde e impotente, não sendo um comportamento exclusivo dos mesmos.

II – Desvios relativos ao fim sexual
Considera-se como fim sexual normal a união das partes genitais no coito, levando à resolução da tensão sexual e, por algum tempo, à extinção do impulso. No processo sexual mais normal encontram-se germes cujo desenvolvimento conduzirá a desvios que são descritos pelo nome de «perversões». As perversões consistem em fenómenos de duas ordens: transgressões anatómicas quando às partes destinadas a realizar a união sexual; paragens em certas relações intermediárias que, normalmente, devem ser franqueadas rapidamente para atingir o fim sexual.
As transgressões anatómicas são a «superestima do objecto sexual», o «uso sexual das mucosas bucais», o «uso sexual do orifício anal», os «substitutos impróprios do objecto sexual; feiticismo».
A fixação dos fins sexuais preliminares são a «formação de novos fins sexuais», «tocar e olhar o objecto sexual», «sadismo e masoquismo».

III – Generalidades sobre as perversões
Com o estudo das perversões, podemos ver que o impulso sexual deve luta contra certas resistências de ordem psíquica, sendo as mais evidentes o pudor e o desgosto. Um certo número de perversões estudadas apenas podem ser comparadas supondo a acção conexa de muitos factores.

IV – O impulso sexual dos nevrosados
Segundo a psicanálise, as psiconevroses (histeria, nevrose obsessiva) devem ser relacionadas com a força dos impulsos sexuais. A energia do impulso sexual constitui uma parte das forças que alimentam as manifestações patológicas, sendo também a mais importante fonte de energia da nevrose e a única que é constante. Um histérico sofre de um recalcamento sexual que ultrapassa a medida normal, sofre de uma intensificação no desenvolvimento das forças que se opõem ao impulso sexual (pudor, desgosto, concepções morais). Um indivíduo predisposto para a histeria torna-se histérico quando, depois da puberdade ou por efeito de circunstâncias exteriores, as suas exigências sexuais se fazem sentir de forma premente. Tal resulta num conflito que o levará à transformação das tendências sexuais em sintomas mórbidos.
Segundo Freud, em todos os nevrosados verificam-se, no inconsciente, veleidades de inversão, uma tendência em fixar a libido numa pessoa do seu sexo, assim como uma tendência para as transgressões anatómicas que se traduz em sintomas mórbidos.

V – Impulsos parciais e zonas erógenas
Freud designa “impulso” como sendo o representante psíquico de uma fonte contínua de excitação proveniente do exterior do organismo. Este encontra-se no limite dos domínios psíquico e físico. A fonte do impulso encontra-se na excitação de um órgão e o seu fim será a satisfação orgânica.
A importância das zonas erógenas como aparelho genital secundário (cavidade bucal e orifício anal) é notável, de forma particular, na histeria.

VI – Explicação do aparente predomínio da sexualidade perversa nas psiconevroses
Existem variantes no comportamento reverso dos nevrosos. Por vezes, o que caracteriza a nevrose é o nível inicial da disposição perversa, outras vezes será o nível atingido pela continuidade de uma derivação colateral da libido.

terça-feira, junho 19, 2007


Noites de Lisboa

Quantas noites viveu Lisboa,
Noites de boémia e loucura
Onde gerações se cruzam
Numa mistura de cores, álcool e música?

Foram tantas que já lhes perdeu a conta
De tão embriagada que estava…

São ruas de chão negro,
Negro como a noite,
Onde se atropelam sobras
Que riem sem saber a razão,
Entre vómitos, urina e lixo
Que fermentam nas esquinas.

Já não é o fado que se canta,
Choroso ou corridinho,
De portas abertas em nostalgia lisboeta;
São outras estranhas melodias,
Mais sensuais ou agressivas
Que se expressão em movimentos corporais
Bem vestidos (ou despidos) por sinal.

São noites de desejo sagrado…

Nestas noites de pecadores
Joga-se com a loucura,
Com o excesso e com o sexo
Fugaz e sem preconceitos.

quarta-feira, junho 13, 2007

Princess Tutu - Hold Me

A Dor de uma Fada

Pobre fada que danças
Nas sombras da inocência,
Numa eterna melancolia
De graciosidades vãs

Que crime cometeste
Para merecer tal castigo?
Terá sido pela beleza
Cobiçada pelo Mundo?

Porque não te soltas
Dessas cruéis amarras
Que te ferem a alma?
Queimaram-te as asas!

Pobre fada, abandonada
Por um povo que não sonha…

domingo, junho 10, 2007

Olá!
Venho informar que, muito em breve, estarei de volta. Pois é, as férias estão quase a começar, já só faltam os exames, mas entretanto virei cá dar notícias. Em princípio, na quarta-feira, já dou provas de vida.

Desculpem a minha ausência...

sábado, abril 07, 2007

Kotoko-Wing My way-anime mix(Summer Colors of Anime)

No vento primaveril,
coberto pelos aromas ainda frescos,
deixo fluir as palavras adormecidas de outrora...
Um sonho, uma vida...

O tempo parou para alguém
a quem, o que realmente interessa,
é a simplicidade de existir
e renascer todos os dias.

E sempre que as sombras insistirem
em cobrir o brilho de cada estrela,
tentarei que o sopro da esperança
acenda o lume da mudança…

terça-feira, março 20, 2007

A IMPORTÂNCIA DA POESIA



A poesia marca uma linha temporal e o pensamento da época em que foi escrita. Só assim sabemos, através de versos e estrofes infindáveis, o que se sentiu numa determinada época, num determinado espaço de tempo.
Com a poesia contamos uma história, o heroísmo ou a derrota, e imortalizamos um acontecimento com a beleza de versos poéticos. Como afirma Miguel Torga, a poesia é de todos, é para todos.
Usando as palavras de Pessoa, mais propriamente, de Ricardo Reis, “a poesia é uma música que se faz com ideias” que traduzimos por palavras. Ao ler um poema conhecemos o sentimento da época em que foi escrito e “abraçamos” a sua história. Com ela podemos ter momentos de intelectualização das suas palavras, dos seus versos, ou apenas o gozo e o prazer da sua leitura, escutando a musicalidade da mesma.
A poesia pode, portanto, ter uma importância meramente lúdica, ou superior. Ajuda-nos a compreender as ideias, os pensamentos e os sentimentos das diferentes épocas em que foram escritas. Tem também um grande valor para o poeta, que expia os seus dramas interiores ou a sua própria rebeldia revolucionária para a poesia.
Escrevi este texto numa dissertação proposta para um teste de Português. Esta valia 80 pontos e eu obtive uma classificação de 78 pontos.
Relativamente aos trabalhos anteriores que aqui publiquei: FOBIAS - Bom; Resumo e Comentário da obra "Inventem-se Novos Pais" - 17 valores.
Peço desculpa pela minha ausência, mas tem-me sido impossível dar mais atenção ao "Mundo Blogger".

quinta-feira, março 08, 2007

Aquilo que escrevo

Quem sabe que palavras escrevo
Sobre o papel amargo da vida?
Palavras que ferem sem medo
De quem as lê – são intocáveis.

Perdem-se na liberdade de um momento,
Na simplicidade, ou mais rebuscadas,
Marcam uma história, uma linha no tempo,
Onde se imortalizam ou se deixam morrer.

Certamente, as minhas morrerão!
Não têm a glória dos antigos lusitanos!
Se ao menos me pudesse repartir,
Fragmentar-me como Pessoa o fez,
Talvez atingisse a tão desejada perfeição…

O que escrevo, em mãos trémulas e verdes,
De nada valerá, nem mesmo ao anoitecer;
Será sempre sombra para os olhos alheios…

sexta-feira, março 02, 2007

Fobias

As fobias afectam uma em cada dez pessoas, tanto jovens como idosos e podem derivar de acontecimentos isolados na infância. As mais frequentes são as que dizem respeito aos animais, elementos naturais, meios de transporte, sangue, agulhas, situações sociais e espaços fechados.
Fobia é o temor ou aversão exagerada perante situações, objectos, animais ou lugares. A fobia caracteriza-se pelo pavor desmedido de quem a tem, que mesmo sabendo do carácter ridículo ou inofensivo dos seus medos, não consegue controlar-se. Muitas pessoas sofrem de vários tipos de fobias simultaneamente; mas, felizmente, alguns tipos de fobias já podem ser tratadas com procedimentos psicológicos adequados.
As fobias provocam reacções físicas intensas. Assim que um indivíduo é confrontado com o medo, as pulsações aumentam rapidamente, fazendo com que o sangue seja bombeado para os músculos. Este processo faz com que o indivíduo possa tomar dois procedimentos de ordem primitiva: a fuga ou o ataque.
As fobias não são genéticas, ou seja, não se transmitem de pais para filhos. Podemos herdar a tendência para sentir medo, através de observação comportamental. Este é um comportamento também de ordem primitiva, onde aprendemos a recear aquilo que ameaçou a nossa sobrevivência como espécie, observando os que nos rodeiam. O mesmo estilo de comportamento aplica-se aos animais. Estas podem, também, ser o resultado de uma obsessão.
Existem várias formas de tratamento de fobias. Uma delas é confrontar, de forma gradual, o indivíduo, vítima de uma fobia, com o seu medo, encorajando-o a ultrapassá-lo. Outra é confrontar o indivíduo, de forma extrema, com o seu medo. Este último visa a que, quando este atinge o seu estado máximo de ansiedade não poderá subir mais, fazendo com que o medo possa vir a descer gradualmente, assim como a ansiedade.
Os grandes causadores do grande número de indivíduos com fobias que temos nos dias de hoje são o stress e a elevada competitividade presente actualmente. Essa competitividade excessiva fomenta medo e insegurança. Ao fim ao cabo, este sentimento não é mais do que um mecanismo de defesa básico que nos protege e assegura a nossa sobrevivência.

Realizei este trabalho sobre fobias para a aula de Psicologia. Isto é apenas a síntese do mesmo.

quinta-feira, março 01, 2007

Mickey 3D - Respire

Approche-toi petit, écoute-moi gamin,
Je vais te raconter l'histoire de l'être humain
Au début y avait rien au début c'était bien
La nature avançait y avait pas de chemin
Puis l'homme a débarqué avec ses gros souliers
Des coups d'pieds dans la gueule pour se faire respecter
Des routes à sens unique il s'est mis à tracer
Les flèches dans la plaine se sont multipliées
Et tous les éléments se sont vus maîtrisés
En 2 temps 3 mouvements l'histoire était pliée
C'est pas demain la veille qu'on fera marche arrière
On a même commencé à polluer le désert
Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
D'ici quelques années on aura bouffé la feuille
Et tes petits-enfants ils n'auront plus qu'un oeil
En plein milieu du front ils te demanderont
Pourquoi toi t'en as 2 tu passeras pour un con
Ils te diront comment t'as pu laisser faire ça
T'auras beau te défendre leur expliquer tout bas
C'est pas ma faute à moi, c'est la faute aux anciens
Mais y aura plus personne pour te laver les mains
Tu leur raconteras l'époque où tu pouvais
Manger des fruits dans l'herbe allongé dans les prés
Y avait des animaux partout dans la forêt,
Au début du printemps, les oiseaux revenaient
Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
Il faut que tu respires, c'est demain que tout empire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
Le pire dans cette histoire c'est qu'on est des esclaves
Quelque part assassin, ici bien incapable
De regarder les arbres sans se sentir coupable
A moitié défroqués, 100 pour cent misérables
Alors voilà petit, l'histoire de l'être humain
C'est pas joli joli, et j'connais pas la fin
T'es pas né dans un chou mais plutôt dans un trou
Qu'on remplit tous les jours comme une fosse à purin
Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
Il faut que tu respires, c'est demain que tout empire
Tu vas pas mourir de rire et ça c'est rien de le dire
Il faut que tu respires (x4)

Se continuar-mos com o desleixe que temos tido até agora para com a Natureza, talvez um dia não tenhamos mais nada se não algo arteficial…

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Aprender a Sentir

No dia em que me roubarem
As palavras que levo na voz,
Irei aprender a ouvir,
Escutando o Mundo ao meu redor;

No dia em que me roubarem
O privilégio de escutar o Mundo,
Irei aprender a observar,
Vendo as maravilhas que este tem;

No dia em que me roubarem
As imagens que trago nos olhos,
Irei aprender a sentir
Todas as sensações da vida;

E se não souber sentir
As emoções do que me rodeia,
Que se extinga o ar que respiro
Pois a vida já nada será.

Ainda posso cantar as palavras,
Ouvir o que estas me ensinam
E ver o que o Mundo me mostra;
Mas, mais que falar, ouvir e ver,
É sentir o seu significado…

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Um pouco deste sonhador...

Mas quem é este indivíduo de tantos nomes? Pégasus, Yaten, Healer…? Uma indecisa escolha pelos nomes…
Quem sou eu?
Um jovem sim, ainda muito verde! Mas todos começamos por ser verdes e, alguns, são-no para a vida. No fundo, penso que, até ao último suspiro, somos todos um pouco verdes. Pensarmos que já somos maduros e detentores de toda a sabedoria só nos faz “apodrecer”.
Há quem diga que sonho muito, por vezes até de mais! Mas sonhar é bom, isto quando não nos deixamos cair na ilusão de que, esses sonhos, são reais e atingíveis facilmente. O bom de sonhar e de ter grandes expectativas é a concretização dos mesmos, através do esforço pessoal de cada um. Sim, sou um jovem sonhador! Sonho com um futuro melhor para mim. Não, não sou egoísta a esse ponto, ao ponto de querer tudo de bom em exclusividade pessoal. Entre tantos sonhos, produzidos por esta jovem alma, está também o sonho de uma sociedade melhor, livre de preconceitos, energias negativas e guerras (de toda a espécie; sim, porque guerras não são só aquelas onde morre gente com disparos furtivos).
Gosto muito de ler! Desejaria ler muito mais do que leio. O tempo é matreiro e, com tantas actividades, resta-me pouco para as minhas leituras. Os meus gostos de leitura são variados, pelo que não vou arriscar dizer nomes de obras ou autores que já li.
Para além de ler, outra das coisas que gosto mesmo é escrever. Poemas, pequenos textos… Enfim, muitas e variadas coisas (algumas desprovidas de qualquer racionalidade ou sentido, mas isso são outras cantigas). Do gosto pela leitura e pela escrita surgem dois dos meus grandes sonhos: ser jornalista e ter algumas das minhas produções editadas e à disposição em qualquer livraria.
Também gosto muito de música! Também tenho gostos musicais variados e, tal como acontece nos livros, não vou correr o risco de enunciar álbuns ou grupos musicais.
Outra das minhas paixões é a animação japonesa! Mas isso, como tantas outras coisas, já não é novidade. Fascina-me a cultura demonstrada na mesma e as mensagens que transmitem, envolvidas em fantasia.
Gosto muito de estar em contacto com a “natureza viva”. Espaços verdes, em que me possa ver rodeado de vida florestal; o mar e a lua… São elementos que me transmitem boas energias e apaziguam possíveis revoltas interiores.


Sou aluno do 12º ano, no curso de Línguas e Literaturas. Também trabalho, numa empresa de estudos de mercado. É cansativo, mas que gozo teria a vida sem um pouco de esforço? Penso que nada…

Como prometido, já me dei a conhecer um pouco mais. Naturalmente que eu sou mais que estas palavras, não que seja grande coisa, mas resolvi abreviar.
Agradeço a todos aqueles que visitam o meu blog e deixam sempre algo. Ainda bem que os blogs existem, acho que já fazem parte da minha vida!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

AMV - Tsubasa Chronicle - Neo Ameno (Remix)

No dia 17 de Fevereiro de 2007 o meu blog fez 3 anos. Foram 3 anos de descoberta, evolução e sonhos contados. Nele depositei um pouco do que senti, vivi e aprendi ao longo destes 3 curtos anos...
Agradeço a todos os visitantes deste meu humilde "mundo de sonhos" pelos comentários deixados, as críticas e a força que alguns me deram.
Fica a promessa de dedicar, mais tarde, um post sobre mim. Até lá, espero que gostem deste AMV de Tsubasa Chronicle ^_^

sexta-feira, fevereiro 16, 2007


Se pudesses um dia ouvir
A minha alma chorar
E os meus sonhos desfalecerem
Pelo coração magoado e amedrontado,
Jamais pensarias que não te amo.

E se tudo isto não chegar
E a devoção não pagar
As contas dos dias maus,
Que a vida se deixe fluir,
Apagando, assim, a memória
Da minha simples existência…

quarta-feira, fevereiro 14, 2007


S. Valentim à venda

O dia de S. Valentim perdeu-se
No consumismo de bugigangas,
Uma variedade supérflua
Para os amantes do século XXI

É dar porque sim, porque é dia,
E quem não dá não ama!
São coisas sem significado
Sem o desejo e a devoção.

O amor compra-se nas lojas
Em formato de corações ou cupidos
Com laços e cartões já escritos.

Para onde foi o sentimento?
Já não chegam as palavras doces
Nem as carícias apaixonadas…

segunda-feira, fevereiro 12, 2007


"Inventem-se Novos Pais"

Daniel Sampaio

II
Comentário

Devo confessar que fiquei surpreendido com as ideias apresentadas neste livro. Apesar da sua experiência com os jovens, e das suas sábias palavras de como lidar com os adolescentes, Daniel Sampaio começa por dizer para não seguirem o que está escrito. Isso demonstra que, mais importante que aplicar o que se aprendeu, é importante ter motivação própria e adaptação individual às situações.
Uma das coisas que discordei foi com o facto de tipificar alguns jovens. Dos jovens “tipo” que apresentou, tive oportunidade de me identificar com alguns deles. Isso prova que cada jovem é um caso e nem sempre podemos agrupá-los de forma tão genérica.
Penso que o grande mal dos pais de hoje em dia, isto falando também como jovem no fim da adolescência (e como tal sei o que é o início da mesma), é não prestar atenção a determinados sinais. As soluções são simples, mas o facto de se prenderem ao passado, ao que eles foram, pode atrapalhar a situação. É muito difícil reconhecerem que não podem continuar a controlar os seus filhos e verem os mesmos a tornarem-se independentes pode ser difícil de gerir. Lembro-me de algo que, quando eram mais novo (quinze anos), acabava por me irritar: por um lado tinha uma mãe distante, mas super protectora, que não queria que eu saísse à noite com os meus amigos, uma vez que algo de mal me podia acontecer, por outro o meu pai, que dizia que, com a minha idade, até já dormia fora de casa. Foi bastante interessante para mim ver tudo aquilo que poderia ter sido feito, todos os erros que poderiam não ter sido cometidos para uma adolescência descomplicada.
Ouve-se frequentemente afirmar que, na adolescência, é normal que os jovens tenham determinado tipo de comportamentos. Não seria mais fácil ler esses comportamentos, que são sinais característicos, e tentar o melhoramento da situação? Achei surpreendente o facto de Daniel Sampaio apresentar um exemplo de uma adolescência sem problemas, baseada na disciplina, na tolerância e no respeito. A adolescência não tem que ser um inferno; talvez sejam os educadores dos adolescentes que a tornam nisso mesmo.
Outro ponto que me interessou também foi aquilo que um bom professor deve ou não fazer para com o aluno. Vou apresentar apenas um exemplo, aquele que mais detestei que um professor me fizesse: humilhar um aluno perante toda a turma, apresentando os seus erros em público – um grande número de professores tem este comportamento, não percebendo que apenas está a contribuir para o mau desenvolvimento do jovem em questão. É muito importante o elogio, o reconhecimento do que está bem feito, todos gostamos disso, independentemente da idade que temos.
É, de facto, uma obra muito bem concebida, não só para pais, mas também para professores, adolescentes e educadores. Os exemplos que apresentam deveriam ser lidos e levados em conta. A adolescência não tem que ser um momento de instabilidade. Isso depende da forma como é acompanhada. É necessário estar atento a todos os sinais, porque todos os comportamentos, até aquele que nos parece ser mais inofensivo, pode ser o começo de algo mais grave.

Em breve irei fazer um post com o Despacho Normativo nº 14.723.001

domingo, fevereiro 11, 2007

"Inventem-se Novos Pais"

Daniel Sampaio


Li este livro para a disciplina de Psicologia, uma vês que tínhamos de ler um dos livros sugeridos pelo professor. Acabei por escolher este pois o título do mesmo fez despertar em mim uma certa curiosidade. Como o resumo que elaborei é um pouco extenso e segue-se ainda o comentário, irei dividir este trabalho em 2 partes. A primeira vai corresponder ao resumo do livro e a segunda ao comentário.
Espero que gostem.
I
Resumo


Neste livro, “Inventem-se Novos Pais”, o professor Daniel Sampaio procura ajudar os pais a interpretar determinados sinais que surgem na adolescência dos seus filhos. Não se trata de um livro dirigido apenas aos pais, mas também aos filhos adolescentes, para que possa existir entendimento entre ambos.
Em primeiro lugar, Daniel Sampaio apresenta uma carta, cujos destinatários são os pais que têm filhos adolescentes, na qual faz um apelo para que não se guiem pelo que era o antigamente e que, se possível, não sigam o que ele próprio escreve. Na sua opinião, os pais devem crescer por si mesmos e ter os seus próprios métodos.
De seguida, Daniel Sampaio apresenta-nos alguns retratos de jovens “tipo”: os “Amélias”, os “cromos do estudo”, os “última fila” e os “Rambos em casa, pigmeus na vida”. Os “Amélias” caracterizam-se por serem rapazes, dos 14 aos 16 anos, que frequentam sobretudo colégios particulares; ocupam os seus tempos livres com puzzles ou a comprar roupa; não fumam nem falam de sexo; usam roupas mais formais e, em vez de jogarem jogos com outros rapazes, fazem-nos com raparigas. Têm uma educação rígida, repleta de “rituais” impostos pela mãe e são muito disciplinados. São adolescentes que não correm os riscos essenciais para um desenvolvimento saudável na adolescência. Os “cromos do estudo” têm entre os 13 ou os 14 anos; têm notas elevadas a todas as disciplinas excepto a educação física, disciplina que odeiam; vestem roupas antiquadas e não são muito sociáveis, apenas com os professores. Em casa são exigentes e críticos, são o orgulho da família devido ás suas classificações na escola, não saírem à noite e não pedirem dinheiro. Daniel Sampaio afirma que estes casos são igualmente preocupantes aos dos alunos que tiram más notas, uma vez que é importante a sua integração no “mundo da adolescência”. Os “última fila” são essencialmente rapazes entre os 16 e os 17 anos que repetem sem cessar o oitavo ano de uma escola secundária. No fim do período já se encontram tapados por falas; sentam-se na última fila e perto da janela e, se o professor não for firme, iniciam uma série de procedimentos para provocar confusão nas aulas. Em casa, ou se fecham no quarto e só saem para comer ou passam a vida fora de casa. Para ajudar estes jovens, Daniel Sampaio afirma ser necessária a sua estimulação para o triunfo e não uma ida ao psicólogo. Os “Rambos em casa, pigmeus na vida” são jovens que repetem o 8º ou o 9º ano e que ameaçam constantemente interromper os estudos. Vestem-se de preto, usam brinco e botas pontiagudas; oscilam entre o haxixe e a heroína e consomem álcool. Em casa vivem num ambiente problemático, no qual procuram ser os reis e os senhores. São agressivos para com os pais. São, no fundo, falsos Rambos, pois escondem o seu vazio interior com uma zanga permanente que não deixa que ninguém se aproxime.
São apresentados alguns exemplos de como foi a educação dos actuais pais de filhos adolescentes, outrora também adolescentes, que viveram numa época de modelos educativos rígidos onde o espaço para emitir opiniões era praticamente nulo. Em contrapartida, os jovens dos nossos dias têm uma determinada liberdade de pôr tudo em causa, de fazer exigências com as quais os pais não conseguem lidar. São demonstradas as grandes diferenças a nível de vida e educação das diferentes gerações. Existem diversos equívocos perante a adolescência, como o facto de ser feita uma comparação entre os dois estilos de educação, pois os pais esquecem-se que as coisas são diferentes; no que diz respeito ao normal e ao patológico na adolescência, uma vez que grande parte das pessoas pensa que é próprio do adolescente um comportamento desorganizado e característico de uma psicose; o facto de se pensar que pais e filhos têm de ter as mesmas opiniões, a mesma visão do mundo e o não entendimento, da parte dos pais, que os filhos deixam de lhes pertencer, começando a ser mais independentes.
Existem uma série de comportamentos, pela parte dos adolescentes, que demonstram que estão a mudar e é importante não os deixar passar sem mostrar ao adolescente que se registaram estas pequenas mudanças. Daniel Sampaio apresenta algumas respostas que os pais devem ter, relativamente a determinado tipo de comportamentos. Nos casos em que os filhos ficam a dormir e não vão às aulas, é apresentada a solução de ser feita uma estimulação em vês de partir para procedimentos extremos. Quando estes faltam às aulas para ficarem em cafés (entre outras coisas) é importante que se entenda que, uma vez ou outra, é saudável; quando o processo se repete será necessário confrontar o jovem com a situação para o compreender e ajudá-lo a ultrapassar o problema.
Uma vez que as famílias de hoje têm pouco tempo, são raras as vezes em que se sentam todos à mesa a fim de partilhar uma refeição; inúmeras características deste comportamento podem levar ao que Daniel Sampaio designa por “síndrome das bandejas” e, para resolver esta situação, propõe que a família combine, pelo menos uma vez por semana, um dia em que possam todos reunir-se à mesa.
Para o adolescente de hoje, sair à noite e ir pela primeira vez a uma discoteca representa um passo importante para a idade adulta. Esse desejo leva a que os pais se inquietem, pois receiam pela segurança dos filhos. Os pais devem aceitar as diversões dos filhos e recomendar horários, idas em grupo, telefonemas, entre outras coisas.
Daniel Sampaio faz também referência à discussão necessária sobre as férias, para que pais e filhos cheguem a um consenso; à influência e respectivos aspectos positivos que o futebol e os concertos podem ter nos jovens; os namoros que não devem ser excessivamente controlados e repletos de perguntas indiscretas (onde são apresentadas algumas cartas como referência); ao efeito que as mentiras podem ter nas relações entre pais e filhos e a importância em acabar com as mesmas.
De seguida é-nos mostrada uma conversa sobre a adolescência actual, de Daniel Sampaio com os pais de dois adolescentes com cinco anos de diferença. Nesta é possível observar que o bom relacionamento familiar é possível, através da tolerância, da compreensão e de uma educação sem extremos nem disfuncionalidades.
É-nos apresentado dois casos de divórcio de casais com filhos. No primeiro é a mãe, Elisa, que fica com a tutela dos filhos, após muitos esforços e um longo processo no tribunal. O caso do divórcio de Elisa foi o facto do marido ser muito obsessivo e ciumento. Até o tribunal ter dado a tutela das crianças à mãe, estes dois irmãos, uma rapariga e um rapaz com três anos de diferença (sendo que a mais velha é a rapariga), estavam praticamente separados pois iam ficando cada um com o pai ou a mãe, trocando uma vez por semana. A rapariga era muito autónoma e o rapaz mais dependente da mãe. Ambos tinham o seu espaço e respeitavam-se mutuamente. Apesar do divórcio acabaram por ter um início de adolescência sem problemas. No segundo caso é o pai, Fernando, quem fica com a tutela dos filhos, com quem tem uma “relação de pele”, devido à sua grande aproximação aos mesmos.
Daniel Sampaio apresenta-nos um caso de um “Rambo artista”, um jovem de dezassete anos. Este começou por receber tratamento após ter ameaçado suicidar-se e ter batido nos pais. Toda a agressão apresentada pelo jovem devia-se ao facto dos pais não respeitarem o espaço dele, as escolhas e os gostos. Era uma família com um passado traumático, devido ao assassínio do avô paterno de Pedro quando o pai tinha apenas quatro anos, e ao suicídio do avô materno, experiência vivida por Pedro. O pai está sempre a criticar o Pedro e a mãe mete-se muito na sua vida. Todos estes comportamentos levam a que se gere um clima de agressão em casa. Ao longo das sessões de terapia familiar, estes vão aprendendo a respeitar-se mutuamente. O jovem é apresentado, por Daniel Sampaio, como “Rambo artista” uma vez que tem comportamentos agressivos em casa, mas demonstra também um grande gosto e interesse pela música, à qual gostaria de se dedicar.
Segue-se o caso de Carla, uma jovem de quinze anos que sofre de anorexia nervosa. Deu entrada no Hospital Santa Maria, no qual ficou internada por ter apenas 29kg, peso bastante baixo para a sua altura e idade, e por apresentar já amenorreia. Através de tratamento por terapia familiar, e não só, a Carla começa a recuperar; come mais vezes e já não tem medo de engordar. A família também sofre alguns problemas graves. A mãe protege demasiado a filha, não lhe dando espaço para crescer, e o pai passa pouco tempo em casa. Ao longo da terapia ocorrem algumas alterações, mas continua a ser necessária a mesma.
São-nos mostradas, também, algumas reflexões sobre a escola e a aprendizagem. Podemos constatar que alguns casos de insucesso escolar deve-se ao facto dos alunos serem apenas criticados por aquilo que fazem mal e raramente elogiados pelo que fazem bem. Isto pode levar a uma desistência pela parte dos mesmos, uma vez que sentem que não vale a pena o esforço.
O autor termina o livro com uma pequena conclusão, na qual demonstra alguns dos aspectos mais importantes da adolescência e os comportamentos mais correctos a ter em relação à mesma.