sábado, dezembro 27, 2008

O que restou deste ano?

Quantas palavras proferi neste ano exaustivo? E até agora? Vinte e um anos de palavras soltas pela loucura do momento ou sonho inocente. Foram de amor, de sofrimento, de felicidade, de esperança, de solidão, de morte, de vida. Cravadas na consciência, banhadas de sangue quente e lua numa noite fria. E todas porque me esqueci de perguntar quem sou. Tantas que quero esquecer-me de todas para poder recriá-las novamente.


A solidão, um banco de jardim vazio, voltado para o rio que passa sem esperar que o acompanhem. Todo o silêncio de uma fria manhã onde o corpo pede a ausência de si mesmo, a pouca vontade de se dar à vida.


Segue o seu caminho cobrindo-se de névoa e folhas secas que vai deixando cair na esperança de ser encontrado. Mas leva-as o vento.


O seu barco não tem encanto, não se deixa levar na liberdade de um sorriso e as palavras não se soltam ao medo de naufragar. De madeira tosca, ondula contra a margem solitária do rio que o acaricia, mas nunca leva.



É pedra que chora na nudez da sua alma, feita de sonhos fantásticos, mas que nunca deixam de o ser. São grandes as vontades, cegas porém. Até o mármore estala.


Depois é o tempo que não pára um momento. Que horas são? Os ponteiros furiosos parecem lanças que trespassam os sonhos e a fantasia. E, no fim, o tempo não existe, é apenas um conceito inventado para trair de modo inconsciente tudo aquilo em que acreditava.


Descansa agora o pôr-do-sol e a areia fria nos pés, um olhar para o recomeço de outras lutas, outras feridas para sarar. O mar dá-lhe força e a lua coragem, pois é apenas um ser que não acredita no amor dos humanos. Descansa agora a rebentação das ondas, como que rebeldia, num despertar de sentidos.


E tudo porque o mundo é um teatro e os seus olhos a janela aberta para a descoberta. Não se entende a decorar papéis (pré) definidos, e as marionetas com que dança cansam-no de tanto atrofio e fios que se emaranham e transformam em nós difíceis de libertar.


O que restou deste ano? Palavras amargas? Feridas a arder com o toque quente do sal? Também. Mas será só isso? Então recorda aquele sorriso escondido e a mão estendida. A música a dissolver a mente e o corpo que se solta ao seu ritmo. O sol quente na pele e um cigarro à beira mar; o mergulhar do corpo na espuma branca e os cabelos molhados ao pôr-do-sol. A descoberta de outros mundos, outras vidas, outras histórias, outros caminhos, outras pontes.


Restou um novo olhar, uma nova procura pela própria existência. E as palavras podem-se sempre reinventar, ainda que por capricho, mas em busca dá sua própria verdade. Deixa então a porta aberta para que a metamorfose de um novo ano não esqueça o que aprendeu. Até porque as alegrias ajudam-nos a viver, mas as tristezas a crescer.


UM ANO NOVO CHEIO DE NOVAS FONTES DE ENERGIA

FELIZ 2009

terça-feira, dezembro 23, 2008


Feliz Natal

Quando era inocente, acreditava no Pai Natal; hoje sei que é uma atitude consumista. Quando era inocente acreditava que o Natal simbolizava amor e união; hoje sei que é apenas hipocrisia social. Já gostei de decorar a casa com uma árvore e fitas e luzes e bolas coloridas e velas perfumadas e presépio e anjos e estrelas; agora vejo que eram apenas acessórios artificiais e desnecessários. Se as pessoas não se preocupassem com os adornos, com os jantares e almoços, se fosse apenas o que realmente interessa, o sentimento genuíno, talvez o natal fosse algo em que eu pudesse acreditar. É esse o meu desejo de Natal, a velha história dos três espíritos…para a consciencialização moral…

Feliz Natal, com tudo o que este deve representar.


domingo, dezembro 07, 2008



O corpo repousa da batalha
Erguidas as mãos feridas:
As mãos que o seguram,
As mãos que sustêm a alma
Livrando-a do peso da carne;

Ardem geladas no silêncio
Longe do fogo quente:
Porque as mãos são de gelo,
Porque as mãos são a mente
Que finge não sentir.

quinta-feira, dezembro 04, 2008



O Velho Inquiridor


Era um velho senhor, comido pelos tempos modernos pós Estado Novo. Senhorial, erecto até onde lhe permitiam as articulações, de rosto cansado, magro e rígido, nunca sorria, os lábios sempre serrados e sisudos, as pálpebras pesadas e enegrecidas, apoiadas no nariz adunco. Apoiava o seu conservadorismo e a postura autoritária na bengala de seu avô, também homem de valores, vencido na guerra.

Sempre zangado
com a vida
com a sua
com a dos outros
consigo
com o mundo...

(Desenho a esferográfica, de minha autoria)

domingo, novembro 30, 2008

Ilusões


Faz frio, o quarto gela e as janelas parecem cristal com pequenas lágrimas, virgens a desflorar na derme, fria. E o quarto ficou vazio entretanto, desapareceu tudo, a estante, os livros, a cama, o roupeiro, as cómodas, os seus quadros e colagens, paredes brancas assentes em mármore azul, parecia gelo. Ajoelhou-se nesse chão para se abraçar e aquecer, porque a porta está fechada, não, a porta deixou de existir, não há porta e, provavelmente, nunca houve.

Então abraça-se na nudez de um corpo coberto de linho e as lágrimas aquecem a face gelada, escorrendo até aos lábios, com um gosto salgado e amargo, e caiem no mármore frio. É aí que se vê, à luz da lua cheia que timidamente trespassava os vidros de cristal, inverso, igual e oposto, que partilham lágrimas com olhares diferentes, medo, raiva, desespero, ódio. Palavras feias, mas tantas vezes sentidas e praticadas de leito em leito, num silêncio nocturno e hipócrita, como sempre é. Mas à sua verdade pouco humana nomeou de insana emoção, insana devoção, e assim foi se dando à majestosa postura com que se deixava pintar por pintores sem génio, pintores que não se conhecendo não conheciam os outros, pintores de vista turva, pintores sensacionalistas, tantos pintores, e nenhum soube pintar a sua verdade. São muitos pintores num mundo pequenino.

Aproxima-se então da janela, com passos tímidos e silenciosos e o corpo a tremer. Encosta-se À janela e respira a réstia de calor. Do outro lado vê o terno encanto, com dedos molhados a percorrer os vidros frios, incita o toque e tocam-se sem se tocarem, encostam as faces e os corpos sem sentirem o seu calor, beijam-se na inocência de não trocarem fluidos, de olhos fechados.

E o tempo abranda, como um suspiro cansado perdido na noite muda. Pára de chover e, quando abre os olhos, foi apenas um sonho. Tapa-se e volta a adormecer.

sexta-feira, novembro 28, 2008


Uma escassa sombra

O sussurrar das palavras na minha mente
Ergue castelos com jardins proibidos,
Ergue fontes e desejos escondidos;
O sussurrar da verdade na minha mente
Reduz à ruína com denso mato selvagem,
Reduz à carência da insana miragem.

Temo então as noites de sobriedade moral
Onde escasseiam os sonhos e a vontade
De fantasiar uma ode de ingenuidade;
Temo então as noites de silêncio sepulcral
Onde o cheiro a morte me envolve
De sal que em meus olhos se dissolve.

Ingénuos são aqueles que acreditam em sonhos
Como eu, que sou insano, que ninguém sou:
Sou escassa sombra num sussurrar silencioso…

segunda-feira, novembro 24, 2008



Efémero existir

Sou ser ausente de mim mesmo
Sem memória de que o tempo existe
Quando nada reflecte nestes olhos
De gelo sobre chamas imaginárias:
Diluem-se num abraço vazio
Naquele toque quente de loucura,
Porque bebi das palavras a vontade
De não mais à liberdade sonhar;
Porque os sonhos são a ruína dos sãos.

Então as palavras que sufocam,
Que borbulham na mente ansiosa,
Soltam-se na efemeridade da existência
E morrem no silêncio dos lábios
Gretados e mordidos no inconsciente.

domingo, novembro 23, 2008



O sofrer das tuas mãos

Corro no escuro para procurar as tuas mãos
Que por serem tuas as procuro na escuridão
Em vão - nem elas nem tu existem na verdade,
Como não existo eu, nem o mundo, nem saudade.
Mas ainda assim as procuro na cegueira da mente
Apenas pela vaidade de não as poder ter
E sofrer a sua ausência como sofro a minha,
Como sofro tudo o que não sinto nos outros.

Perco-me no eco dos passos apressados,
No eco dos meus gestos perdidos no espaço
Vazio, perco-me perdendo a escassa lucidez.

É esta procura pelas tuas mãos que faz
Mover o corpo cansado e a alma fugaz
Que cria a ansiedade como fogo colorido
A arder dentro deste túmulo gasto e esquecido.
Só eu não esqueço esse toque que faz pulsar
Tempestades dentro do peito, como que a protestar
O extinguir dos sentidos e das tuas mãos e de ti
E de todas as coisas vivas que carreguei dentro de mim.

Penosa é a pena perpetuada dessas mãos
As mesmas que sofreram outras penas,
Outras procuras ansiosas - momentos vãos…

sábado, novembro 22, 2008

free Hugs - World

Um abraço pode fazer toda a diferença...



A Decadência e a Dor Solitária

Quero esquecer-me de mim e dormir,
Matar o corpo que nunca quis
Porque estou sóbrio e solitário num mundo
De pobres mendigos a mendigar o mau beber:
Os que pedem esmolas tornaram-se ingratos
E os que as dão arrogantes são.

A solidão tem em mim pena perpétua
E nunca me sinto livre de mim…

Mas não consigo dormir porque não esqueço,
Não esqueço existir sem sonhos
E no sono cansado não sonho com cor,
Somente sombras num grito perdido
Na noite em ausência de Lua,
Porque morreu ou não gosta de mim.

A necessidade de abandonar o pensamento
É proporcional à vontade de extinção…

A dor de pensar que existo nasce da mente
E não daqueles por quem me cruzo
Nas ruas sujas de carácter empobrecido;
Dói-me porque me iludo com a própria alma,
Porque sou desmedido e depois desmentido
Na ausente arte de sonhar.

Perco-me ao abandono a que me dou
Nas ruínas do meu castelo de cartas.

quinta-feira, novembro 20, 2008



O Morder das Palavras

Mordi o lábio!
Agora as palavras sabem a sangue
e os fantasmas gritam
e eu fecho a janela
e os braços cruzam-se.

Mas o silêncio também fere;
antes o amargar do sangue,
quente nos lábios,
quente na pele:
a fluir lentamente.

E o corpo que repouse,
que eu me consuma sonolento,
que me extinga,
que não mais exista,
sem carne a oprimir.

Então lembro que mordi o lábio
a serrar as palavras assustadas,
algumas sombrias, odiosas,
outras cobertas de nada,
mas não me lembro porquê…

porque a dormir
os sonhos respiram vida.

domingo, novembro 16, 2008

ExIsto

- parte 1 -



Parece-me que já não se pensa na própria existência. Somos formatados para ser o que fazemos, para levar o pão à boca e saciar o estômago. Qual a razão de existir? Será que existo? Perguntas que a raros assombram. É a frustração de um mundo de pensamento leviano, fácil, prático e produtivo - produtividade física e material.
Estamos na era das máquinas. Ainda que a tecnologia surja para facilitar a vida atarefada do Homem, retira-lhe as suas capacidades intelectuais básicas, como fazer uma simples conta de somar com dois algarismos. Não assumo uma posição de rejeição às tecnologias, são práticas e representam uma grande ajuda. O problema reside no facto da dependência excessiva.
Será que a tecnologia me pode responder a todas estas perguntas que me invadem a mente?

Quem sou eu?

Qual a razão de existir?

Será que existo?

Será que aquilo que os meus sentidos percepcionam existe?

Ao existir como ser pensante, ou aparentemente pensante, visto que as ideias não são originais, apenas a descoberta das mesmas e a atribuição de signos, vem a questão da realidade material e envolvente, assim como o motivo desta presença naquilo a que designamos de mundo. A noção de mundo levanta também outras questões, porque há uma certa tendência para questionar a existência, a sua razão e origem.
Muitas são as interpretações, de acordo com o Estudioso. Com a “criação” do mundo, veio também a atribuição de signos para nomear cada “coisa” albergada dentro de si. E para cada nação signos diferentes, em língua e em sentido. Palavras, então, que não existem no pensamento de humanos de sociedades diferentes, tempos diferentes, etc…

Mas, regressando à primeira pergunta, como poderei eu decifrar o que vai para além da imagem oferecida pelo espelho? Em decadência, cometi o erro de perguntar aos outros. E as respostas variam, de acordo com o que sou para essas mesmas pessoas. A resposta que mais assombrava a alma era o “nada” / “ninguém”. Há uma certa necessidade em marcar a nossa identidade nos outros, ou seja, somos aquilo que os outros vêm e vivemos em nessa órbita. Não que sejamos dependentes dessa ideia, cada um tem a sua personalidade, mas para existir depende dos outros. Quando morremos não nos extinguimos completamente. O corpo morre, mas continuamos a existir enquanto memória. A verdadeira morte ocorre quando esse espectro de memória se extingue.
Sou, então, produto de uma memória cravada na carne. Cabe a concepção aos progenitores e parte das suas memórias transmitem-se ainda em fase de gestação. Depois é como que uma esponja que vai absorvendo o mundo à sua volta, criando a sua própria personalidade/memória “existível“.

quarta-feira, novembro 12, 2008


Olhar de Lisboa

Lisboa,
Nobre Lisboa ,
Dás-te ao encanto e à descoberta,
À ruína e à tragédia
De um povo que esqueceu.
Como podem não sentir o desejo,
O desejo de errar,
Errar pelos trilhos calcetados de história?
E o grito das gaivotas
Que se aventuram ao Chiado?
Quase se confundem
No alarido das damas carpideiras.
Por momentos esqueço o ruído,
O ruído cinza sufocante
E embrenho-me nos sentidos
Oferecidos nas largas ruas pombalinas:
O cheiro da castanha assada,
Levada pelo vento,
E o doce das pastelarias de tradição;
As roupas e acessórios urbanos
A marcar um estilo de cor viva e despreocupada;
A dança de um pincel
ou pedaço de carvão
Na tela de uma fantasia mal paga,
Aquela estranha felicidade desmembrada;
Estátuas humanas que não se movem ou sorriem…
Tantos outros prazeres ou manchas
Que parecem alastrar apenas.
Respiro esta Lisboa de fachadas encardidas,
O vento perfumado dos miradouros
(alguns pouco têm de bons aromas).
Gostava de me poder afundar mais
Nesta essência de ser de Lisboa.
Talvez um dia,
Num outro passeio com luzes de Natal.

segunda-feira, outubro 27, 2008



Pessoas


Colho da noite a ansiedade boémia que fermenta cá dentro. O corpo quer sentir o batimento cardíaco exterior. São centenas de faces diferentes, que se movimentam e riem, e bebem, e conversam, e divagam, e fazem coisas das quais não se orgulham na sobriedade do amanhecer tardio. E é neste antro nocturno que tenho a percepção de que me cruzei com muitas pessoas, pessoas de quem gosto muito, de quem simplesmente gosto, pessoas de ocasião, pessoas indiferentes, desinteressantes, pessoas que evito, pessoas que temo encontrar por uma questão de gestão emocional, pessoas que desconheço o nome, mas que fazem questão de recordar o meu, entre outras tantas pessoas. São muitas pessoas. Felizmente, haverá uma hora em que tudo isto deixa de ter importância, e apenas conta quem nos acompanha e aquela música que está a começar.

sábado, outubro 25, 2008



Ao encontro de um ciclo

O corpo é como pedra que arde,
Arde ao toque quente que rasga
Na pele - vontade de ser carne;

Mas é frio o olhar que se afasta,
Vazio e firme a fitar um universo
Que gela ao desprezo de quem passa;

Também se cheio de mel e malmequeres
É como que creme condensado:
Só se comem três míseras colheres;

Nunca de folhas perdidas e gastas,
Pois se a alma é de securas lamentações
Resta o vinho áspero de boas castas.

E porque não meias medidas,
Outras vontades e virtudes várias,
Coberta de aventuras vencidas?

sábado, outubro 18, 2008

[AIR AMV] Walkin' on Sunshine

I used to think maybe you love me, now baby I'm sure
And I just cant wait till the day, when you knock on my door
Now every time I go for the mail box, gotta hold myself down
'cause I just cant wait till you write me, you're coming around

[Chorus:]

I'm walking on sunshine (whoa oh)
I'm walking on sunshine (whoa oh)
I'm walking on sunshine (whoa oh)
And don't it feel good (HEY!) Alright now
And don't it feel good (HEY!) Alright now
All right now yeah! (HEY!)

I used to think maybe you love me, I know that it's true
And I don't wanna spend all of my life just waiting for you (just waiting for you)
Now I don't want you back for the weekend, not back for a day, no, no, no
Baby I just want you back and I want you to stay

[Chorus]

Walking on sunshine
Walking on sunshine

I feel the love, I feel the love, I feel the love that's really real
I feel the love, I feel the love, I feel the love that's really real

[Chorus till end]

quinta-feira, outubro 16, 2008


Pedra apenas

Desenhei uma flor
De pedra
E à ausência de cor
Chamei cinza.

As pedras não dormem
Como eu,
Também não sofrem,
Erosão apenas.

Serei eu pedra gravada
Com sangue humano?
Serei pedra largada
Num sentimento mundano?

São de ódio as pedras
Nunca de amor;
Abrem feridas e guerras
Como uma arma!

Uma pedra não se abraça,
Contorna-se;
Não tem beleza ou graça,
Não se vê…

terça-feira, outubro 14, 2008


Aquele momento

Rendeu-se o corpo à vontade insana
Da descoberta de histórias de gente humana,
Talvez colher dos sonhos o romance
Com muito pouca presunção triunfante.

Galopante majestade em fantasias
Provava de seu sangue amargas ironias
Com sombras de maquiavélico riso
Num coração amedrontado e indeciso.

E trouxe-lhe o Vento à luz da Lua cheia,
Junto ao Mar e ao encanto da sereia
A quem oferendas fez em troca de desejos;

A noite não deixou sentir os velhos receios,
Podendo corpo e mente voltar a unir
Aquele momento em que o vi sorrir…

domingo, outubro 12, 2008


Pequenas Constatações Temporais

O corpo jorrava fantasias e sonhos
E as estrelas gravadas nos seus olhos!

Foi o primeiro a nesta terra morrer:
Feito pó e merda num beco a ferver…

Quais asas de anjo - pato bravo!
Elegância de cisne na boca de um leopardo,
De alma vazia, sombria imagem;
Ninguém diria da fome ser selvagem.

E das princesas de rendas adornadas
Que riam e sorriam não serem desfloradas
Restou o corpete, a liga e o rouge
E da inocência uma prostituta que ruge.

O tempo escasseia - tic - tac - o relógio!
Só os mortos conhecem o signo “ócio”.

E eu, que não estando ainda morto,
Me considero cada vez mais louco.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Aprende a aceitar as consequências
Das próprias livres escolhas
Ainda que o caos e breves tormentas
Te assustem quando as olhas.

Se livre sou de poder escolher,
De sentir aos encantos e desencantos,
Também saberei sonhos defender
Sem ruínas ou catastróficos prantos.

Mas o corpo é o rastilho inseguro
Numa alma inflamável e perigosa
Com memórias feitas de pólvora.

Desconheço as brumas do futuro
Mas faço das escolhas a minha fome
E dos sonhos o elixir que consome.



De olhos fechados e lábios cerrados

Quando fecho os olhos
Vejo uma seara de trigo
Coberta de um azul perfeito;
Quando fecho os olhos
Sinto a brisa e um sorriso
Do mais formoso gesto.

Se meus lábios cerrar
Poderei escutar as palavras
Que em mim trago escondidas;
Se meus lábios cerrar
Não se soltam raivas rasgadas
Pela mente sã oprimidas.

Quero fechar os olhos,
Quero cerrar os lábios:
Sucumbir de vontades e sonhos!
Quero provar o gosto da vida,
Quero provar o gosto da fantasia:
Ser à liberdade como por magia!

Quando fechar os olhos
Sonharei o mar antigo
E o cheiro do sal no corpo;
Quando fechar os olhos
Cuidarei o anjo ferido
Que diziam já ter morto.

De lábios cerrados
Mordo o que à mente escapa
E um grito será um murmúrio;
De lábios cerrados
Saboreio a paz escassa
Da fonte do bom pronuncio.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Miragens Incompletas


Tenho gelo nas mãos e o fogo no corpo, mas nada sei do que é ser gente.


Sou o mar e o seu infinito;
A espuma salgada e quente:
Sede de me afundar inconsciente
Na gargalhada de ser menino.

Sou a Lua e o negro céu
Com pirilampos que pairam em fantasia
Sobre sonhos e memórias de um dia
Em que de medos se soltou o véu.

A flor queimada com lágrimas de fada
Num cenário de mármore frio
A arranhar a temperança da alma
Num túmulo abandonado e vazio.




Nada disto é ser gente. É qualquer coisa imaginada. O gelo derrete nas mãos e fere os dedos finos. Um dia serão enrugados e secos. O fogo vacila a sua chama sem ter por onde arder. Um dia gelará, perdendo-se na neblina da madrugada.


Cantaram deuses e ninfas embriagadas
Entre danças e desejos descuidados;
Esfomeados infortúnios, coisa pouca,
Deram vida a uma mente louca.

Embriagado de sonhos que a vida entoa,
Dança de olhos serrados e corpo suado
(quente e salgado, tanto que enjoa).




A música atenua os meus sentidos e o corpo estende-se no mar azul. Apetece sentir a areia fresca e o calor do Sol. Os cabelos molhados e o gosto salgado na pele e nos lábios.

BEIJA-ME!

O rádio a tocar, e o corpo balança na gravidade da Lua. Quero gargalhadas e gelados de caramelo e chocolate intenso; uma esplanada cheia, um pôr-do-sol e as estrelas.


Estou a dormir consciente:
O céu é púrpura que se move
E na mesma não sou gente,
Apenas um grito de fome;
Rasgos de infância criativa
Com lápis-de-arco-íris
E nuvens brancas numa folha…

…mas, por vezes, cinza apenas…


Agora quero repousar naquele mundo que inventei em tempos ingénuos. Quero nuvens de algodão, um Sol a sorrir, árvores mais altas que as casas (brancas, com telhados triangulares e vermelhos), flores de todas as cores e andorinhas a voar, vindas das montanhas




Tacteia-se no nervoso miudinho
A criatura medonha de expressão vazia
E num sorriso rasgado de histerismo
Não se reconhece sem a fantasia;

A chuva arranha a janela
E ela grita e rasteja pela casa
Com as paredes a derreterem
Na sua própria cara.


No fim são apenas miragens. Quase se tocam – cruzam-se em silêncios inconscientes com a verdade. Farão de mim gente? Apenas algo omnipresente. Aquela vontade de ser um e não dois para depois criar algo mais.

Em mim, nem as miragens se completam.

quarta-feira, outubro 01, 2008



A Velha Verdade

Reconheci a verdade num dia em que me perguntaram se estava de luto. Agora já não sei dormir.

Vesti-me de negro, um manto de noite.

Pausa para um cigarro molengão e aquela música que já não estranho. Mas o tempo não parou. Nunca pára, apesar da sua bipolaridade.

Penso que todos os olhos de todas as ruas me seguiam, ainda que num paço sempre rápido. Ignoro. Talvez não ignore, estou a mentir. Intriga-me terem tempo para seguir viagens alheias. Pobres que não sabem ler, e os que sabem não querem sujar as mãos de negro e cinza.

Agora preferem pólvora e sangue.

Já não estou habituado a sair de casa sem música constante. Não suporto o reboliço da cidade em hora de ponta, as conversas provincianas nas paragens e nos transportes públicos, as abordagens inoportunas, tudo.

A música oferece-me a exclusividade própria e cansa-me menos.

As pessoas cansam e são mesquinhas, odiosas numa elevada percentagem. Consumidas pelo tempo, odeiam a vida que construíram e praguejam a má sorte e o sucesso dos outros, que nunca lhes parece genuíno. Anseiam a tragédia e o crime passional a fermentar na calçada.

Desta vez, a verdade4 vestiu-se de homem velho, enrugado, com vestes debutadas e um boné que lhe escondia o olhar. Parou nas horas mortas e observou-me a alma:

Temos futuro doutor?

(Sorri) Não.

(Aproxima-se mais um pouco) E advogado? Tem ar de quem estuda direito.

(Estou cansado) Também não. Jornalismo”

(Ficámos frente a frente) Vai pela vocação. É jovem, mas não se deixe perder em sonhos fantásticos.

Depois ensinou-me o que sabia sobre fazer jornais e que, na verdade, já não restavam muitos jornalistas, apenas escritores furiosos, operários, ou operadores de escrita, ou uma elevada percentagem de gente frustrada no desemprego.

Sorriu para mim, escondeu os olhos profundos com a pala do boné e afastou-se, acenando de costas voltadas. Desejou-me boa sorte.

Desapareceu…

Há quem possa afirmar que era um pobre velho senil, ou que foi apenas um delírio meu. Não me importa a verdade dos outros. Que seja eu o louco se for mais fácil para alguns. Não foi sempre a loucura uma desculpa para o que é diferente?

Não quero ser a sombra dos outros… Quero apenas voltar a adormecer…

sexta-feira, setembro 19, 2008

http://www.youtube.com/watch?v=NhL-U6D4nRw

Para aqueles que se perderam nas encruzilhadas da vida. Para os que esqueceram.

Eu não esqueço as palavras, ainda que magoem na ausência de quem as disse.

-
Step one you say we need to talk
He walks you say sit down it's just a talk
He smiles politely back at you
You stare politely right on through
Some sort of window to your right
As he goes left and you stay right
Between the lines of fear and blame
You begin to wonder why you came

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

Let him know that you know best
Cause after all you do know best
Try to slip past his defense
Without granting innocence
Lay down a list of what is wrong
The things you've told him all along
And pray to God he hears you
And pray to God he hears you

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

As he begins to raise his voice
You lower yours and grant him one last choice
Drive until you lose the road
Or break with the ones you've followed
He will do one of two things
He will admit to everything
Or he'll say he's just not the same
And you'll begin to wonder why you came

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life
How to save a life
How to save a life

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

CHORUS:
Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life
How to save a life

quinta-feira, setembro 18, 2008


Apetecia-me beijar a poesia dos teus sentidos
e correr as paginas do teu corpo

sorver cada palavra escondida em cada poro.

quarta-feira, setembro 17, 2008


Horas mortas

Estasiam-me as horas mortas
Suspensas na cidade de cristal
Com sinos a tocar e pombas
E ratazanas e um rio imundo.

As pessoas são a negra expressão
De fingir a vida todos os dias;
Sombras entre o fumo e o pó
E os mendigos sujos de crude.

As pessoas morrem suspensas
Na cidade de cristal empoeirada
Com pombas a defecar nos sinos
Silenciosos nas muralhas.

E se olho para o céu de hoje
Farejo a cor morta de um azul
Imundo como o rio que o beija,
Como o crude e os mendigos.

Sobeja o aço quente de sangue;
O vermelho carregado que seduz
É dos lábios e escorre nas mãos
Que as pessoas piamente beijam.

A cidade de cristal tem sinos
E pombas e ratazanas e mendigos
E um rio imundo e fumo e pó
E sangue quente e aço e crude!

As horas mortas suspensas
São das pessoas perdidas
Que defecam dentro das muralhas
Fechadas, sombrias e silenciosas.

terça-feira, setembro 16, 2008

Praia da Memória

Encontrei-te perdido no entardecer das palavras
Guardadas numa caixa de música partida;
No céu púrpura das praias que nos olhos levavas,
Carregados de sal, com odor a maresia;

Deixas na areia as pegadas errantes,
Apagadas pelas vagas da tua fraca memória
Como o canto das sereias do tempo distantes.
Toda uma longa e enfadonha história…

Nessa praia encontrei um barco encalhado:
Os restos de uma tempestade rasgada
Na mente… Obscuras tentações do mero acaso
De quem viu a sua alma ser pelo medo levada.

Suspiro a clandestinidade para não provar
O veneno dos sentidos falsos e fáceis
E brindo à loucura de saber sonhar.
É uma questão de desmitificar os desejos selvagens.

A noite arrefece com o sopro salgado do mar
Sem um corpo quente; apenas a lua e os astros
A enternecem. Mais não deve faltar.
Não mais que fingimentos enclausurados;

E o vento carregado de vozes velhas e sinistras
Canta a minha loucura consciente
De ambicionar diferentes perspectivas de conquistas.
Serei simplesmente um ser demente?

A falésia – escura, perigosamente apetecível.
Sem farol. Há um farol, mas em ruínas inúteis.
Tudo o que é ruína é inutilmente inesquecível
Até aprendermos que na verdade são úteis:

Subo-a para abraçar o vento e as coisas vivas
Que guardo dentro de mim e de olhos serrados
Tacteio o encanto e a perdição das vertigens
Procurando no vazio os sentimentos roubados.

Sentir é agora o choque das gélidas águas,
O sangue a pulsar devagar nas veias,
Projectar no corpo a fantasia das fábulas
E esperar ser encontrado por míticas sereias.

Mas despertam os gritos das gaivotas
Que comem o peixe podre que o Homem largou
Junto do barco que se perdeu nas rochas
Ao encanto da vida que a loucura levou.

Rems

Não serão os sonhos uma imagem inconsciente da realidade?

segunda-feira, setembro 15, 2008


Dói-me o corpo
Porque dancei sem fôlego
Dói-me o corpo
Porque me cansei
De ti

Não grites para a porta fechada
Que ela não te ouve
Não chores a flor queimada
Que já morreu velha
Por ti

domingo, setembro 14, 2008


Ser mais que qualquer coisa

As palavras que trago
Todas fechadas dentro de mim
São de ódio, são de medo
São de tudo, são de nada
São a memória queimada
Do desejo consumido
Não são de gente alguma

Quem mas quer libertar?
Talvez a alma insana
De um qualquer desconhecido
Vencido da guerra mundana
Seja a vontade, seja o sangue
Seja um simples «porque sim»
Mas que seja mais que um suspiro

segunda-feira, setembro 08, 2008

Vício Obsessivo

Silêncio!

Nada – expressão do vazio
Prestes a colidir com a loucura

O sol cega-me
As palavras secam nos lábios
Sedentos

Quero beber dessa fonte
Da tua
Até se cansarem as línguas
Irrequietas

O sangue quente
Prestes a explodir
Dentro de mim
Dentro deste meu corpo
Sem graça ou melodia

E no fim
Banhar-me de lua e mar
Arder com o teu fogo
Viciante dependência
No silêncio do teu olhar
Penetrante

sexta-feira, setembro 05, 2008


Desejo de expressão

Tenho um nó na garganta;
as palavras rasgam-se dentro de mim
e o sangue é ácido que corrói;
tenho sede de tudo e de nada:
- Um grito oprimido no desconhecido…

As palavras não saem!
Estão presas nas entranhas de pedra;
serão um dia pó ausente
quando morrerem ao meu desejo,
ao desejo de ser gente…
... ao desejo de expressão

quinta-feira, setembro 04, 2008

Attack of the Otaku

Um pouco de energia e cor para animar os dias mais cinzentos.

Neko-chan, este é para ti ^_^

Hope u enjoy

Happy times and happy days

quarta-feira, setembro 03, 2008


Foge menina loira

Corre perdida nas entranhas da avenida
A rapariga loira de virgindade perdida;
Foge das sombras, foge da vida
Foge da inocência a pobre menina.

As ruas cheiram a sangue e a suor,
Cheiram a sexo sem qualquer pudor.
O vómito fermenta com a urina
Como a loucura da loira menina.

Menina, pobre menina assustada,
Deixas pegadas de sangue na estrada!
Segue-te o vilão sem coração
Para que te ajoelhes e lhe beijes a mão.

E se te apanhar obrigar-te-á a casar
Para teu corpo afagar e o ventre rasgar
No chão, contra a parede, na cama,
Mas de puta não terás a dita fama.

Foge menina loira, que teu corpo apetece:
É quente e suave, quase enlouquece!
Foge desta cidade de prostitutas,
Foge da morte fácil se és astuta.

segunda-feira, setembro 01, 2008


Enquanto a Lua não surgir

Temo agora os gestos e as palavras
Que envolvo em sílabas desconhecidas
De um idioma que não é meu.

Por que me afundo em incertezas
Feitas de areia e barro?
Com quantas mãos me moldo?

Faço da noite o manto com que me envolvo
E espero pelo nada,
Pela morte de uma qualquer estrela.

E enquanto a Lua não surgir
Não serão belas as ondas
Nem branca a sua espuma.

domingo, agosto 31, 2008

Perdidos e Achados

Perdi-me nestas ruas submersas
Sem as palavras que me sussurravas
Discretamente ao ouvido atento
A todos os encantos dos dialectos
Que tecíamos ao sabor do vento.

Perdi-te naquela ponte abandonada
Sem as ternuras e aventuras
Com que construíamos história
Para toda uma vida condenada
A não ser mais que uma memória.

Perdemos aquela canção de amor,
As danças e as serenatas
Sob a lua e suas infinitas estrelas
Restando apenas a culpa e a dor
De quem navega num barco sem velas;

E hoje que não fazes parte do presente
Perco-me em saudades e vontades,
Em desejos e sonhos apagados,
Afogando o coração carente,
De mim, de ti e de tempo…

sábado, agosto 30, 2008

O meu corpo num ritmo incerto:
O mármore tosco e sem brilho
Por fracas mãos esculpido
Na cegueira do desespero;

E estes olhos de terra
Mais não são que a janela aberta
Para a fonte da fantasia;

Meios lábios anseiam a doçura apimentada
Que apenas os deuses conhecem:
De ti (do teu gosto) carecem,
Mas no Olimpo te escondes.

O teu corpo – num gesto discreto:
Do melhor mármore criado,
Pelos deuses sabiamente trabalhado
À melhor luz do mundo;

E esses olhos de mel,
São doces mas sabem a fel!
Quase que matam de tentação;

Teus lábios de gosto agridoce
Ainda meus sonhos fazem delícias,
Mas o corpo pede carícias
Que no tempo se perderam…

(Mas)

Farei das mágoas as pedras
Para erguer o meu tributo,
Das lágrimas o encanto das fontes
E dos medos medonhas feras,
Guardiãs deste meu túmulo.

sexta-feira, agosto 29, 2008


O calor desta cidade consome o corpo
Que seguras na sombra dos deuses;
Tudo é pedra, pó e doces perfumes,
Tudo aqui é Sol com uma brisa suave.

A língua que não entendo dá-me fome
Vontade de a provar e ser do fascínio,
E os corpos, a mitologia num presente
Tão comum como a pasta intensa.

Quantos sabores queres degustar?
Saboreia-os nos meus lábios secos
E mata esta cede que tenho de ti:
Sejamos como Marte e Vénus no Olimpo.

quinta-feira, agosto 28, 2008

DIÁRIO DE BORDO
- VENEZA - ROMA -
Veneza, não tenho muito para dizer sobre esta cidade. Despertou o pior de mim, talvez não estivesse preparado para a conhecer. Os poucos dias que permaneci fechado nas suas ruas, cercado pelos canais, fizeram-me sentir sufocado nas minhas próprias palavras.
Apanhei mau tempo, as ruas eram escuras e apertadas, perdi-me nelas. Depois a frieza das pessoas e a multidão que circulava, interrompendo o meu passo rápido. Apenas a Piazza S. Marcos e uma das grandes pontes de Veneza mas proporcionaram algum bem-estar e interesse.
A cidade que todos dizem gostar, aquela em que se projectam sonhos românticos, filmes e aventuras. A mim só me despertou a ansiedade de partir de volta para Roma.
Mais não direi, pois estaria a contaminar outras visões. Deixo, contudo, algumas das imagens que recolhi dos dias de Veneza e a última fotografia que tirei, já em Roma.


Lisboa - Roma - Veneza - Roma - Lisboa
fim

quarta-feira, agosto 27, 2008

DIÁRIO DE BORDO
- ROMA -
14 de Agosto de 2008

O último dia em Roma e o comboio aguarda este corpo reduzido ao cansaço pelo encanto e enriquecimento interior, essencialmente. O primeiro impacto com Itália, numa cidade que fazia (e continua a fazer) as minhas delícias mitológicas. Uma cidade quente e abafada, onde escasseiam as brisas a que estamos habituados em Lisboa.
As pessoas (que nos recebem e servem) são extremamente simpáticas e sorriem muito. Contam histórias, elogiam o bom gosto, servem com requinte e profissionalismo, sempre atentos aos pormenores.
As ruas movimentadas, com um misto de perfumes doces, ou terra batida aromatizada. Cantamos os cheiros de Lisboa, e poderei que dizer que Roma não fica atrás.
É, sem dúvida, apaixonante. As fontes guardam promessas de amor e oferecem desejos por caridade. O glamour de bem vestir e aqueles corpos que fazem lembrar as esculturas angelicais espalhadas pela cidade.
Abundam barraquinhas que remontam a tradição de servir diversas vontades. Vestuário, lembranças, fruta fresca e exótica assim como bebidas, sandes tostadas na hora e temperadas com ervas finas. O problema são os preços. Vi através do preço da água engarrafada (a qual não gostei, passando a beber apenas gaseificada). O preço mais elevado foram 4€ por 0,5 litros de água, e o mais baixo foi 1,50€ por 1,5 litros de água fresca.
O metropolitano e as suas estações escuras diferiam um pouco consoante as linhas A ou B. A linha A, apesar das estações serem rudimentares como as da linha B, as carruagem eram mais modernas e limpas.
Visitei diversos monumentos com estilo, época ou influência diferentes e cada um com a sua particularidade de magnitude e beleza indiscutíveis. As histórias. O regresso ao passado e a preocupação que este povo tem em preservar a sua história e de marcar aqueles que a fizeram. Vi muito e, ainda assim, tão pouco. Ficou tanto por descobrir, principalmente o interior dos monumentos e museus, visto que haviam sempre filas enormes para entrar. Talvez seja melhor visitar esta cidade em época baixa para um maior aprofundamento de cultura. Fiquei com uma ideia geral, mas fascinante, de Roma.

domingo, agosto 24, 2008

DIÁRIO DE BORDO
- ROMA -
13 de Agosto de 2008

Após o pequeno-almoço, o dia iniciou-se com uma peregrinação ao Vaticano. A afronta aos antigos deuses, que não teme erguer a voz aos céus, dizendo-se dono do tempo, do destino e da razão. Centenas de pessoas na sua devoção, esperando piedosamente por entrar por portas além da grande praça e respirar o mofo divino. O que mais me fascinou foi a grande “coluna” no centro, que servia, também, de relógio de sol gigante, com os pontos cardiais marcados em redor, no solo. Em redor, grandes candeeiros com torneiras na sua base, jorrando água de canos certamente abençoados. O Sol arde sobre nós, susceptível à ilusão das aparições.

- Vaticano

Como humanos, nem o Senhor nos priva das necessidades nutricionais, pelo que foi necessária uma paragem para o almoço. A escolha recaiu sobre o Restaurant Bar Giggi, do actor e gran chef Luigi Tondinelli. Como primeiro prato, uma deliciosa lasanha, forte em tomate. Para segundo, um delicioso prato de vegetais assados e salteados, com todos os sabores originais.
A minha segunda escolha turística foi o Castel Sant’ Ângelo, relativamente perto do Vaticano, pelo que, quem como eu não receia os caminhos pedestres, poderá ir a pé. É incrível o património de todo este povo, assim como a sua dedicação em preservá-lo. Caminhei em torno do castelo, que me fez lembrar um grande cilindro de pedra, achatado.

- Castel San’t Ângelo

Também as pontes que unem as margens do rio Tevere, talhadas pela criatividade e empenho da sua época. A que mais me fascinou foi a Ponte Sant’ Ângelo, adornada de anjos que seguem os viajantes que a atravessam.

- Ponte Sant’ Ângelo

Pelo caminho ainda me cruzei com o Palazzo di Giustizia, antes de chegar à Piazza del Populo. Esta última mostrava influências egípcias, com esfinges de mármore, fontes, um pilar com hieróglifos egípcios e estátuas que evocavam a história do povo romano.

- Palazzo di Giustizia (f2805-2810)

- Piazza del Populo (f2811-2826)

Apesar do cansaço, prossegui a minha caminhada, subindo uma escadaria escondida por trás da praça, que me levou até à viale Belvedere, um óptimo miradouro que, lém de nos oferecer uma bela vista com o Vaticano no horizonte, tem vários bancos de pedra à sombra, ideais para repousar.

- viale Belvedere

Após alguma medonha inspiração, continuei a minha caminhada até Trinitá del Monti e Piazza di Spagna. Como o corpo já reclamava descanso, a atenção foi reduzida, pelo que regressei ao hotel onde desfrutei de um relaxante banho de espuma com hidromassagem.

- Trinitá del Monti

- Piazza di Spagna

O dia deu-se por terminado com uma pizza de queijo e salpicão picante, um gosto intenso e ligeiramente acalorado numa fina massa estaladiça.