terça-feira, março 23, 2010


Num mero acaso

Será que sentem esses mendigos
Em que se distanciam esculturas de vidro
Os licores dos sóbrios esquecidos?
Será gente perdida – será gente?

Fingem não saber o que se fez ver
Desse peregrino orgulho – qual marcha triunfante,
Vontades sem voz nas veias a ferver;
Monstruosidade, sua majestade possante.

Porque pequeno vês se é grande o olho
Grande como Sol, como a tua própria sombra?
Talvez não mais que um sonho
Em que a Deus confessadas frustrações
De leigos – essa prostituição latente.

As ruas cheiram a mofo
São como trincheiras e livros de história;
Mais um copo de vinho ao velho louco
Mais um brinde à sua glória!

Cansas-me de como ver as unhas crescer
Cheias de terra, cheias de medo;
Cansas-me! Inútil sobriedade febril!

…E toda a tua questionável sensatez
Fez-me não ser de ti mais que um acaso….

sábado, março 13, 2010


Uma pequena piada

É engraçado o facto de nunca nos perguntarem o que queremos. De forma cordial e cortês, muitas vezes um “o que deseja?” ou “em que lhe poderei ser útil?”, é um quase que se baseia na satisfação de um desejo fútil, orgânico, algo do género (não me ocorrem ideias melhores). Mesmo que a pergunta seja “o que queres?” é sempre colocada no limiar da vontade, servida à simplicidade de uma escolha que, provavelmente, nunca chega a ser sincera para nenhum dos intervenientes. Gostava, mesmo muito, que me perguntassem o que quero, uma pergunta vinda das profundezas humanas, onde tantos morreram nessa tentativa inexequível de a alcançar, que faria os olhos brilharem à semelhança dos de uma criança feliz no dia de Natal (sublinho o facto de criança feliz pois nem todas o são, ainda que com a menção natalícia – palavra feia). Fracos. Mas como “querer é poder”, provavelmente é esse o motivo para que não se permita tal luxo, essa predisposição de satisfazer a vontade do outro, ainda que a justificação advenha do facto de que, o poder, é uma coisa ruim quando nas mãos erradas. Para mim não há mãos certas ou erradas, há simplesmente mãos. E o lado humano desse membro, esse sim, é aterrorizador.