segunda-feira, setembro 24, 2007


Agonia Mímica e Muda

Vejo nestes olhos a alma profunda
Reflectida nas sombras da noite;
Vejo-me perdido neste espelho
Num género de solidão – o vazio.

É a saudade da própria inocência,
Um espírito que pede clemência
Gritando dentro do meu peito:
Gritos mudos e mímicos…

Eis que o sonho se perde na floresta
Densa e escura – chora, foge da besta
Que reside algures na mente inconsciente
Como um anjo ridículo e mortal;

Ergue a face molhada para a lua;
Pérolas que caiem como orvalho
Nas pétalas das flores serenas…
Esconde a dor para que ninguém a veja!

É por esta fraqueza que o corpo reclama
Ou se deixa lentamente morrer,
Para que não sinta a agonia de viver
Sem a antiga força, sem aquela chama…

quarta-feira, setembro 05, 2007


O Meu Funeral


Mas que trágico para um jovem como eu, que completou apenas os seus 20 anos, pensar no momento após a sua morte. Não me julguem doido ou sinistro, apenas pus-me a pensar, enquanto o sono não vinha, como seria após o fim da minha vida. Irei então descrever como imaginei o meu funeral e o meu enterro, caso morra novo, em tempos próximos.



Quem entrar na sala poderá sentir o doce aroma do incenso oriental que estaria a arder perto do meu caixão, em dois potes cheios de areia e cinzas. Estes poderiam ser grandes e pequenos, desde que se mantivessem ao nível do caixão. Juntamente com o incenso, músicas que relembram a natureza iriam envolver todo o espaço, suavemente, transmitindo paz para quem entrasse na sala.
Não iriam encontrar a trivial sala escura, mas sim uma sala bem iluminada e arejada, decorada em tons claros. A separar a câmara de convívio daquela onde estaria o meu caixão estariam grandes cortinas brancas e leves presas com fitas azuis turquesa.
Ao aproximarem-se no meu caixão, poderiam ver-me adormecido, vestido de branco com um manto azul-marinho, descalço, segurando um ramo de lírios brancos, presos com fitas de várias cores: azul-bebé, rosa-bebé, amarelo, laranja, vermelho e cinzento, com um grande laço em fita vermelha no centro. Todo o interior do caixão estaria forrado a branco com areia e conchas perdidas no fundo e algumas pétalas de rosa.

Regras para quem quiser ir ao meu funeral:

1- Ir vestido em tons claros e simples (nada de preto ou cores escuras);

2- Não chorar desalmadamente ou evocar por mim;

3- Ir com uma fita no pulso, correspondente à ligação que tem para comigo:

Azul-bebé – pai
Rosa-bebé – mãe
Amarelo – familiar
Laranja – amigo
Vermelho – quem amei antes de morrer
Cinzento – conhecido

(nota: em alguns casos poderão levar pais que uma fita; ex: um familiar com o qual tivesse uma relação de amizade levaria uma amarela e outra laranja; um familiar com o qual eu não tivesse muita ligação levaria amarela e cinzenta, etc…)

4- Não fazer do funeral um arraial ou uma sala de tricô;

5- Não beijar, acariciar ou mexer no meu corpo morto.

Gostaria também de ser enterrado num cemitério bonito, com jardim. As regras para o enterro serão as mesmas do funeral e, no momento antes de taparem o caixão, quem quiser, não atira terra como se costuma fazer, mas pétalas de flores. Não quero que ninguém veja o caixão a ser coberto de terra, pedia que os presentes se fossem embora antes de tal acontecer.
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Bom, e assim termino a descrição de como gostaria que fosse o meu funeral e enterro. Tentei fazê-lo de forma simples para não se tornar um texto muito longo.
Há quem pense em muitas coisas antes de dormir, nas contas que tem para pagar, no dia que teve, no dia seguinte, no jantar, etc… Eu tenho pensado nisto, nas últimas noites. É estranho, mas não é de todo desagradável, até tem o seu lado engraçado. Pergunto o que diria um psiquiatra…