quinta-feira, janeiro 27, 2011


Dust, shadows and change

Erguer um castelo, onde cada pedra é feita de sonhos infindáveis, ingenuamente tomados como imortais e eternos, pode custar o suor da alma. Para o destruir, não são necessários séculos de abandono ou desleixo, basta o poder do gesto humano, como ordinária pólvora.
Como um príncipe mimado pela ânsia de alcançar o todo, perdeu-se em palavras desonradas. E sem título de nobreza, vagueia nas ruas solitárias de uma cidade tão cheia de tudo, com tão pouco para oferecer aos seus olhos cansados. Restar-lhe-ia a fé nos Homens, não fossem vagas orações a um deus convenientemente míope.
Das ruínas, mais que história, faz-se memória. Da memória, mais que sabedoria, faz-se uma vida. E da vida, mais do que um sonho, faz-se o que se quer , tanto de nós como dos outros, numa balança deficientemente calibrada.
Não é a mudança que cria o medo, porque três vezes terei a ousadia de dizer quem sou. Não são as âncoras que me prendem, nem as velas que se rasgam. É a prematura criatura insegura que faz nojo à simplicidade da descoberta de um novo mundo.

terça-feira, janeiro 18, 2011


A poison aPPle !

Hoje sinto-me tentado a representar cada palavra, antes de fazer dela verbo. A ingénua liberdade tem um preço que nem sempre estamos dispostos a pagar. Talvez fosse uma metamorfose de géneros, tão próximos do corpo, desonrados signos, uma crónica amnésia tendenciosa aos velhos costumes do século; ou talvez fosse o mesmo.
Terei jeito ou engenho? As más línguas dizem coisas, coisas de seu interesse, de seu (des)gosto, e eu digo outras, e os outros dizem outras coisas. Todos temos algo a dizer, seja curto ou grosso (há quem prefira a versão curto-e-grosso).

Por algum motivo, a palavra referendo não me sai da cabeça…

segunda-feira, janeiro 17, 2011



AGE/PLANS ?

Senti-me envelhecer ao planear o futuro. Grande erro, tentar prever o desenvolvimento financeiro em 10 anos e projectar tópicos por etapa. Não foi o sonho, aliado à sóbria atitude, que me fez envelhecer, mas ousar pensar em voz alta.
Planeamos os estudos, a carreira profissional, a construção de um lar e o seu recheio, entre mobílias, objectos e o amor, essa palavrinha indiscreta, que adivinha uma provável família. No final das contas, tinha 35 anos, e a perspectiva de um romance por escrever.
Será isso viver? A constante pergunta de “o que queres ser quando fores grande”? E o que é ser grande? Segundo Florbela Espanca, seria ser poeta e maior do que os homens.
Não o ser faria de mim um vagabundo numa cidade de fantasmas, e mais não teria que um corpo.

domingo, janeiro 16, 2011



?
Não ousas ser mais que mortal?
Fechar os olhos e voar sobre um oceano azul,
Respirar…
Não ousas sonhar?
Fazer desse a tua vida…
Não é fazer de ti um deus,
É fazer de ti um ser tão vivo como a grandeza do mundo.

De casaco e vício nos lábios, lembrei-me de pisar a calçada apressada; talvez pelo ar frio e ideias quentes.
Entrei numa cyber loja de conveniência. Depois das lojas chinesas, tornaram-se “moda” a crescer como humidade nas velhas ruas de Lisboa. Não me choca, ainda que já tenha contado, num perímetro de 300 metros da minha residência, quatro desses convenientes postos de venda, abertos horas incontáveis. Não me choca serem exploradas por uma outra nacionalidade, onde chegamos a ver esposas fieis ao lenço ou à burca. Chocou-me, entrar, e ver duas fileiras de pc’s, em caixas individuais, semelhantes àquelas em que exercemos o dever de voto, cada uma ocupada por um cidadão, cada cidadão mais diferente, ou semelhante a si mesmo, que o anterior. Desde o teenager com tendências góticas, ao padrão da senhora de meia idade embrulhada no seu roupão, todos dobrados sobre os seus corpos adormecidos.
Paguei e saí Quando julguei não ser pior, um bar “aneonizado”, a meia luz e som, que deixava espreitar um corrido balcão adornado de monitores, ratos e teclados, com um certo "cyber glamour".
Será o que dizíamos futuro, ontem? Ainda que adepto de comunidades virtuais, sóbrio, será uma espécie de tentativa de pegar nessas tendências e exteriorizá-las? Se o progresso é “virtualizar” o sonho, porque não torná-lo real?
Regressei, ofegante, e alimentei-me do meu orgulho.

quarta-feira, janeiro 12, 2011


Nostálgico, ansioso e de pouca vontade em içar âncoras. Era o orgulho, um bicho selvagem e ferido, cheio de verdades que não consentia dizer, murmurava-as apenas, com a satisfação do ruído da cidade.
Foi assim que te reencontrei, vazio de ti e dos outros, a sorrir à luz destes dias de Inverno. Não sobravam palavras, contadas nas bocas de um mundo cheio de artistas pouco aptos ao seu manuseamento; mas os teus olhos chegavam para me perder no Mundo que o Homem esqueceu.
Demo-nos, porque ambos sabíamos que a existência de ambos não era mais que mera coincidência, e o tempo tem o valor que se lhe quiser dar, nenhum. E se nos voltarmos a perder, saberemos certamente quais as ruas que trilhámos, com incerta consciência do que nelas julgámos ver.