terça-feira, abril 28, 2009



Lágrima de Papel

Quero rasgar esta lágrima de papel
Mancha que se expande
Que se entranha neste que a devora;
Esponja seca parece
Dilatando - tímida parece.

Respira fundo - uma flor que se abre
Nas mãos que tremem convictas…

Sente o toque áspero na língua
E sorve mais um pouco
De olhos fechados para não se ver:
Quase que saliva gulosa!

Quero não ver, talvez esconder
Como corpo morto que na terra cresce
Ser parte dela - voz sem palavras
Ou rasgá-la na mente que dorme
Inquieta sem saber.

domingo, abril 26, 2009

(Rossio, 25 de Abril de 2009)

Um Murmúrio Sobre a Cidade

Um murmúrio sobre a cidade, confundia-se com o cinzento do céu. Tardou a marcha já gasta; afinal foram pesando os anos na voz, ou censurada a consciência. Muitos sim, erguidas bandeiras com a força de uma revolução estagnada, apenas mais uma.
Florescia o cravo no peito, florescia já para morrer no protesto das reformas apertadas, da igualdade de direitos, do capitalismo inflacionado, da mobilidade urbana, do desemprego e da precariedade - crises entre outras tantas. Não fosse o rufar dos tambores, nas suas batidas rítmicas, morreria a flor sem sangue, morreria num cálice de licor amargurado.
Ainda vi os velhos desse tempo arrastados na motivação para o regresso. Diziam que a culpa é dos jovens, que não sabem o que é o 25 de Abril… Quem sabe?

sábado, abril 25, 2009


Censuradas

Dizia palavras enquanto crescia
Algures entre espelhos ,
Palavras que depois perdia
Nos lábios mordidos receios.

Queria dizê-las em voz alta
Nas ruas de linho queimado.
Chão de sangue imundo!
Gritando fazerem falta
No silêncio de todo um mundo
Pela morte de um soldado de prata.

A boca que secava na madrugada,
A água que não vertia ,
A cabeça que doía:
O canto da velha cigarra…

Vão-se breves ouvindo
Desenhadas em marcha lenta
Quando a tenta a mão
E cobre-se de pó e terra
Amassando na boca o pão.

Mordidas são salgadas,
São sofridas e veladas;
Nunca ditas tempestuosas sílabas:
Umas magoam - outras são frias…

…Nunca ditas!