sábado, dezembro 27, 2008

O que restou deste ano?

Quantas palavras proferi neste ano exaustivo? E até agora? Vinte e um anos de palavras soltas pela loucura do momento ou sonho inocente. Foram de amor, de sofrimento, de felicidade, de esperança, de solidão, de morte, de vida. Cravadas na consciência, banhadas de sangue quente e lua numa noite fria. E todas porque me esqueci de perguntar quem sou. Tantas que quero esquecer-me de todas para poder recriá-las novamente.


A solidão, um banco de jardim vazio, voltado para o rio que passa sem esperar que o acompanhem. Todo o silêncio de uma fria manhã onde o corpo pede a ausência de si mesmo, a pouca vontade de se dar à vida.


Segue o seu caminho cobrindo-se de névoa e folhas secas que vai deixando cair na esperança de ser encontrado. Mas leva-as o vento.


O seu barco não tem encanto, não se deixa levar na liberdade de um sorriso e as palavras não se soltam ao medo de naufragar. De madeira tosca, ondula contra a margem solitária do rio que o acaricia, mas nunca leva.



É pedra que chora na nudez da sua alma, feita de sonhos fantásticos, mas que nunca deixam de o ser. São grandes as vontades, cegas porém. Até o mármore estala.


Depois é o tempo que não pára um momento. Que horas são? Os ponteiros furiosos parecem lanças que trespassam os sonhos e a fantasia. E, no fim, o tempo não existe, é apenas um conceito inventado para trair de modo inconsciente tudo aquilo em que acreditava.


Descansa agora o pôr-do-sol e a areia fria nos pés, um olhar para o recomeço de outras lutas, outras feridas para sarar. O mar dá-lhe força e a lua coragem, pois é apenas um ser que não acredita no amor dos humanos. Descansa agora a rebentação das ondas, como que rebeldia, num despertar de sentidos.


E tudo porque o mundo é um teatro e os seus olhos a janela aberta para a descoberta. Não se entende a decorar papéis (pré) definidos, e as marionetas com que dança cansam-no de tanto atrofio e fios que se emaranham e transformam em nós difíceis de libertar.


O que restou deste ano? Palavras amargas? Feridas a arder com o toque quente do sal? Também. Mas será só isso? Então recorda aquele sorriso escondido e a mão estendida. A música a dissolver a mente e o corpo que se solta ao seu ritmo. O sol quente na pele e um cigarro à beira mar; o mergulhar do corpo na espuma branca e os cabelos molhados ao pôr-do-sol. A descoberta de outros mundos, outras vidas, outras histórias, outros caminhos, outras pontes.


Restou um novo olhar, uma nova procura pela própria existência. E as palavras podem-se sempre reinventar, ainda que por capricho, mas em busca dá sua própria verdade. Deixa então a porta aberta para que a metamorfose de um novo ano não esqueça o que aprendeu. Até porque as alegrias ajudam-nos a viver, mas as tristezas a crescer.


UM ANO NOVO CHEIO DE NOVAS FONTES DE ENERGIA

FELIZ 2009

terça-feira, dezembro 23, 2008


Feliz Natal

Quando era inocente, acreditava no Pai Natal; hoje sei que é uma atitude consumista. Quando era inocente acreditava que o Natal simbolizava amor e união; hoje sei que é apenas hipocrisia social. Já gostei de decorar a casa com uma árvore e fitas e luzes e bolas coloridas e velas perfumadas e presépio e anjos e estrelas; agora vejo que eram apenas acessórios artificiais e desnecessários. Se as pessoas não se preocupassem com os adornos, com os jantares e almoços, se fosse apenas o que realmente interessa, o sentimento genuíno, talvez o natal fosse algo em que eu pudesse acreditar. É esse o meu desejo de Natal, a velha história dos três espíritos…para a consciencialização moral…

Feliz Natal, com tudo o que este deve representar.


domingo, dezembro 07, 2008



O corpo repousa da batalha
Erguidas as mãos feridas:
As mãos que o seguram,
As mãos que sustêm a alma
Livrando-a do peso da carne;

Ardem geladas no silêncio
Longe do fogo quente:
Porque as mãos são de gelo,
Porque as mãos são a mente
Que finge não sentir.

quinta-feira, dezembro 04, 2008



O Velho Inquiridor


Era um velho senhor, comido pelos tempos modernos pós Estado Novo. Senhorial, erecto até onde lhe permitiam as articulações, de rosto cansado, magro e rígido, nunca sorria, os lábios sempre serrados e sisudos, as pálpebras pesadas e enegrecidas, apoiadas no nariz adunco. Apoiava o seu conservadorismo e a postura autoritária na bengala de seu avô, também homem de valores, vencido na guerra.

Sempre zangado
com a vida
com a sua
com a dos outros
consigo
com o mundo...

(Desenho a esferográfica, de minha autoria)