sexta-feira, novembro 09, 2007


Suspiro Vegetativo

Sinto-me cansado de tanto cinzento.
É esta cor cinzenta, feita de pedra
Que me rodeia e se inclina cobre mim
Como se me quisesse derrubar.

E como se não fosse de mais,
Nesta densa praga doentia
Ouvem-se gritos, ruídos tenebrosos,
Ensurdecedores de qualquer raciocínio!

Aqui até o ar pesa e o vento suja;
A chuva queima nesta selva infernal
Onde tudo é fútil e artificial!

Somos súbditos do tempo
Numa corrida de rotina desenfreada,
Esgravatando na sanidade por dinheiro.

Insano, vagueio neste assombro
Buscando um pouco de vida
Que não tenha sido corrompida
Por este estranho e sinistro sistema;

Até o escasso verde que encontro
Me cheira a fantasmas de plástico!
Não fosse o original causar alergias,
Porque o que sobrevive parece repugnar…

Talvez um dia a nossa Mãe se zangue
E mostre que a lábia do Homem não chega
Para mudar o castigo merecido;

Os avisos já não bastam a estas almas,
De tão loucas que se tornaram;
Já nem medo sentem – são vegetais.

sexta-feira, novembro 02, 2007


Com quantas cores se pinta um sonho?

Com quantas cores se pinta um sonho?
Deixo que a minha alma se tinja,
Trespassada pela vida de um arco-íris.

Tenho sede, sede de mar, sede de amar,
De molhar os pés na água salgada
E envolver-me na espuma das ondas,
Esperando que o meu corpo se dissolva
Para fazer parte da sua imensidão.

Misturam-se as cores em tons suaves,
Tons de azul cor-de-céu-e-mar,
A areia morna do sol, o branco das ondas;
Começam a diluir-se em traços e curvas
Numa grande tela vazia.

Preciso de ar, ar de floresta densa,
Respirar e sentir esta dança,
Dança de aromas puros e virgens;
O toque suave do vento nas flores:
Cores que voam, fadas talvez…

Misturam-se as cores em tons vivos,
Cores silvestres que se diluem
Com a suavidade do mar
Numa cumplicidade intensa,
Preenchendo a grande tela sonhadora.

O sonho é de todas as cores do arco-íris
Numa mistura pura que cria o elo
Entre a alma, a fantasia e a vida:
Uma ponte, parte de mim para um todo,
Até onde eu conseguir sonhar!


Possível Fórmula da Vida

Pergunto-me numa noite sem lua,
De ventos despertos e alma nua:
Com que gestos se cria a vida
Para além da concepção já conhecida?

Há quem lhe atribua origem divina,
Outros, pela complexa ciência;
Mas o que há para lá do orgânico?

Quero ser criança novamente
E imaginar a fórmula secreta:

Dar-lhe-ia um pouco de fantasia,
Um sorriso sincero todos os dias
E algumas nuvens passageiras,
Para crescer e aprender
A ultrapassar as barreiras;
Para que nada viesse a faltar
Curiosidade para o mundo explorar;
Uma flor, um momento a desfrutar;
Amor, alguém para abraçar;
O mar, o horizonte, o respirar;
A paz, a força para o mundo mudar;
Esperança, para nunca desistir sem lutar…

Tantas coisas juntaria nesta receita,
Mas a imaginação já é pouca
E nem sempre nos ficam os traços de criança;
Sobraram hoje apenas alguns minutos…