terça-feira, setembro 16, 2008

Praia da Memória

Encontrei-te perdido no entardecer das palavras
Guardadas numa caixa de música partida;
No céu púrpura das praias que nos olhos levavas,
Carregados de sal, com odor a maresia;

Deixas na areia as pegadas errantes,
Apagadas pelas vagas da tua fraca memória
Como o canto das sereias do tempo distantes.
Toda uma longa e enfadonha história…

Nessa praia encontrei um barco encalhado:
Os restos de uma tempestade rasgada
Na mente… Obscuras tentações do mero acaso
De quem viu a sua alma ser pelo medo levada.

Suspiro a clandestinidade para não provar
O veneno dos sentidos falsos e fáceis
E brindo à loucura de saber sonhar.
É uma questão de desmitificar os desejos selvagens.

A noite arrefece com o sopro salgado do mar
Sem um corpo quente; apenas a lua e os astros
A enternecem. Mais não deve faltar.
Não mais que fingimentos enclausurados;

E o vento carregado de vozes velhas e sinistras
Canta a minha loucura consciente
De ambicionar diferentes perspectivas de conquistas.
Serei simplesmente um ser demente?

A falésia – escura, perigosamente apetecível.
Sem farol. Há um farol, mas em ruínas inúteis.
Tudo o que é ruína é inutilmente inesquecível
Até aprendermos que na verdade são úteis:

Subo-a para abraçar o vento e as coisas vivas
Que guardo dentro de mim e de olhos serrados
Tacteio o encanto e a perdição das vertigens
Procurando no vazio os sentimentos roubados.

Sentir é agora o choque das gélidas águas,
O sangue a pulsar devagar nas veias,
Projectar no corpo a fantasia das fábulas
E esperar ser encontrado por míticas sereias.

Mas despertam os gritos das gaivotas
Que comem o peixe podre que o Homem largou
Junto do barco que se perdeu nas rochas
Ao encanto da vida que a loucura levou.

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