sexta-feira, junho 22, 2007


Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade

- Sigmund Freud -

~RESUMO~

[3ª parte]

3

As Transformações da Puberdade

Com o início da puberdade surgem transformações que conduzirão a vida sexual infantil à sua forma definitiva e normal. É dado agora um novo fim sexual, na realização do qual todos os impulsos parciais cooperam, enquanto as zonas erógenas se subordinam ao primado da zona genital. Este novo fim sexual determina também evoluções sexuais divergentes.

I – O primado das zonas genitais e o prazer preliminar
O desenvolvimento dos órgãos genitais fazem com que estes possam ser postos em actividade, por meio de excitações que podem nascer de três formas diferentes: ou provêm do mundo exterior pelo estímulo das zonas erógenas, ou procedem do interior do organismo por caminhos ainda desconhecidos, ou têm por ponto de partida a vida psíquica que se apresenta como um reservatório de impressões exteriores e um posto de recepção para as excitações interiores. Estes mecanismos manifestam-se por sintomas de ordem psíquica ou somática.
As zonas erógenas servem para criar, em consequência de uma excitação apropriada, uma certa soma de prazer, ponto de partida do acréscimo da tensão que, por sua vez, deverá fornecer a energia motora necessária para o acto sexual.
Segundo Freud, o prazer preliminar apresenta um certo perigo, relativo à realização normal do acto sexual, visto que pode tornar-se excessivamente grande enquanto a parte de tensão permanece excessivamente fraca.

II – O problema da excitação sexual
Quanto à origem e natureza da tensão sexual que acompanha o prazer no momento da satisfação das zonas erógenas, Freud admite que o prazer e a tensão sexual não estão ligados de uma forma directa, mas sim indirecta.
Existem indícios que permitem estabelecer uma conexão entre a tensão e os produtos genitais. O aparelho genital, ao longo da vida, liberta-se dos produtos genitais por períodos variáveis, mas com alguma regularidade; durante a noite, é comum realizar-se uma descarga acompanhada de uma sensação de prazer no decurso da alucinação de um sonho, representativo de um acto sexual. Para explicar este processo, Freud afirma que é possível sermos levados a pensar que a tensão sexual existe em função da acumulação de esperma nos reservatórios. Visto que quando as reservas seminais estão esgotadas não se consegue obter prazer, verifica-se que é necessário um certo grau de tensão sexual para que as zonas erógenas possam entrar em estado de excitação. Para todos os efeitos, estes comportamentos não podem ser consideradas em crianças, mulheres ou em homens castrados.
A parte intersticial das glândulas genitais produz matérias químicas de um carácter particular que levam certas partes do sistema nervoso central a um estado de tensão sexual.

III – Teoria da libido
A libido é uma força quantitativamente variável que permite medir os processos e as transformações no domínio da excitação sexual. Para além de um carácter quantitativo, a libido apresenta um carácter qualitativo.
Através da análise das perversões e das psiconevroses, Freud chegou à conclusão que a excitação sexual não provém unicamente das partes genitais, mas de todos os outros órgãos. Forma-se, então, a noção de uma quantidade de libido cujo representante psíquico seria aquilo a que se designa por a libido do eu. Uma vez que a libido do eu não é acessível à análise assim que se apodera de objectos sexuais, quando se torna libido objecto, Freud concluiu que seria necessária a concentração na libido objecto.
A libido do eu, destacada dos seus objectos, fica suspensa em condições particulares de tensão e reentra no eu. A transformação da libido do eu ganha importância quando se trata de explicar perturbações profundas de natureza psicótica.

IV – A diferenciação dos sexos
É no período da puberdade que se vê aparecer uma distinção nítida entre o carácter masculino e o carácter feminino. O desenvolvimento das inibições sexuais realiza-se muito cedo nas meninas, encontrando menos resistência que nos rapazes. Estas têm uma maior tendência para o recalcamento sexual. No entanto, a actividade auto-erótica das zonas erógenas é a mesma para os dois sexos.
A puberdade, que no rapaz leva ao grande impulso da libido, é caracterizada na rapariga por uma nova vaga de recalcamento, sendo que o que é recalcado é um elemento da sexualidade masculina. Este recalcamento sexual leva a que tenham as zonas erógenas mais insensíveis.

V – A descoberta do objecto
Durante o período de latência, a criança aprende a “amar” outras pessoas para que possa ver satisfeitas as suas necessidades. Esse “amor” é o reflexo das relações estabelecidas com a mãe durante o período de aleitamento, onde o objecto sexual era a sucção do seio materno. O facto da criança se mostrar insaciável na sua necessidade de ternura dos pais é, segundo Freud, um dos melhores presságios de um nervosismo interior; por outro lado, serão os pais nevropatas que, pelas suas carícias, despertarão na criança as predisposições para as nevroses. São estes comportamentos que mostram a hereditariedade das nevroses de pais para filhos.
É formada na criança uma barreira contra o incesto na medida em que, apesar de existir a predisposição da criança em escolher as pessoas que amou, a maturidade sexual ganhou tempo para edificar esta barreira através dos preceitos morais. Contudo, nos casos de psiconevrose, a actividade psicossexual em busca do objecto permanece no inconsciente.
Aquele que evitou uma fixação incestuosa da sua libido não fica, por isso, liberto da sua influência. Daí ser comum que, na primeira escolha de um objecto sexual, o adolescente escolha algo à imagem da sua mãe ou do seu pai.
Apesar da influência exercida pela sociedade, o homem pode ganhar tendências para a inversão. Esta é explicada por Freud no sentido em que o jovem, na sua infância, se tenha despegado muito cedo da sua mãe. Nos casos em que um dos pais desapareceu, a criança incide todo o seu amor na pessoa que lhe ficou. Existem também os casos em que é observável a não concretização da fase de Édipo, em que a criança cria uma certa hostilidade para com o elemento paterno.

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