quarta-feira, junho 20, 2007



Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade
- Sigmund Freud -
~ Resumo ~
[2ª parte]
2
A Sexualidade Infantil
I – O período de latência sexual durante a infância e as suas interrupções
Ao nascer, a criança trás consigo predisposições sexuais que evoluem durante algum tempo e que, depois, sofrem uma repressão progressiva, interrompida por surtos regulares de desenvolvimento ou paragens em consequências das particularidades do indivíduo.
Durante o período de latência criam-se inibições sexuais, causadas pela educação de uma sociedade civilizada. É natural que as tendências sexuais da criança continuem a existir no período de latência, mas que sejam desviadas para o seu uso próprio e aplicadas a outros fins.

II – As manifestações da sexualidade da criança
A criança pode manifestar comportamentos sexuais através da sucção ou do auto-erotismo e, em alguns casos, o puxar e agarrar o lóbulo da orelha de outra pessoa. O acto de chupar absorve toda a atenção da criança, adormece-a e pode mesmo levá-la a ter reacções motoras, numa espécie de orgasmo. Tal faz com que as crianças passem, muitas vezes, da sucção à masturbação.

III – O fim sexual da sexualidade infantil
O fim sexual do impulso da criança consiste na satisfação obtida pela excitação apropriada da zona erógena que a mesma elege como sendo a que mais lhe dá prazer estimular. O fim da sexualidade é substituir a sensação de excitação projectada na zona erógena por uma excitação exterior que a acalme e crie um sentimento de satisfação.
A zona erógena pode mudar consoante os conhecimentos fisiológicos adquiridos.

IV – As manifestações sexuais masturbatórias
A situação anatómica da zona anal torna-a própria para apoiar uma actividade sexual sobre uma outra função fisiológica. As frequentes perturbações intestinais das crianças alimentam, nesta região, um estado de excitabilidade intensa. As crianças que utilizam a excitabilidade erógena da zona anal revelam-se na retenção das fezes, fazendo com que a acumulação das mesmas provoquem contracções musculares intensas que, ao serem repelidas, provocam excitação. Um sinal de um futuro comportamento bizarro de carácter ou nervosismo é quando a criança, sentada na bacia, se recusa a expelir as fezes para obter, assim, um maior prazer. A retenção das fezes resulta na obstipação, frequente nos nevrosados.
Existem três fases* na masturbação infantil. A primeira corresponde ao período de aleitamento, no qual a criança obtém prazer quando mama no peito da mãe, um prazer que vai para além da satisfação alimentar. A segunda ao curto período de desenvolvimento da actividade sexual, por volta do quarto ano. Nesta, o onanismo do lactente parece desaparecer após um certo período e, quando persiste até à puberdade, pode dar origem a um desvio importante no desenvolvimento do indivíduo. Durante esta segunda fase da criança, a excitação sexual do período de aleitamento volta. O renovamento da actividade sexual está submetido a influências determinantes, endógenas e exógenas.
A criança, em consequência de uma sedução, está predisposta a actos perversos, que encontram resistências psíquicas. Nestas circunstâncias a criança comporta-se com o sedutor como se não tivesse, ainda, sofrido influências da civilização.
Por muito predominante que seja o papel desempenhado pelas zonas erógenas, compreende componentes que a levam a procurar, desde início, outras pessoas como objecto sexual. Entre estas componentes, Freud menciona as que levam as crianças a gostarem de ver e a serem exibicionistas, assim como o impulso para a crueldade. A criança, livre de pudor, mostra, nos anos da primeira infância, um prazer em descobrir o seu corpo e, em contrapartida, curiosidade em procurar ver as partes genitais de outra pessoa.

(* a terceira fase corresponde à puberdade)

V – As investigações sexuais da criança
Na época em que a vida sexual da criança atinge o primeiro grau de desenvolvimento (do terceiro ao quinto ano) começa a surgir o início de uma actividade provocada pelo impulso de procurar saber, não dependendo este exclusivamente da sexualidade. A sua actividade corresponde, por um lado, à necessidade de domínio e, por outro lado, utiliza como energia o desejo de ver.

VI – Fases do desenvolvimento da organização sexual
A primeira organização sexual é a pré-genital, na qual as zonas genitais ainda não impuseram o seu primado. Nesta fase, a actividade sexual não está separada da ingestão dos alimentos. Numa segunda fase pré-genital, sádico-anal, o elemento activo parece constituído pelo impulso de domínio, ligado à musculatura, e o passivo será representado pela mucosa intestinal erógena.
Segue-se a ambivalência, a qual pode substituir e exercer o seu domínio durante toda a vida.
A escolha sexual será feita em dois tempos, por dois surtos. O primeiro surto começa entre os dois e os cinco anos, ficando suspensa por um período de latência, caracterizando-se pela natureza infantil dos fins sexuais. O segundo surto começa na puberdade e determina a forma definitiva que a vida sexual há-de tomar. O adolescente não pode fazer a escolha de um novo objecto sexual senão depois de ter renunciado aos objectos da sua infância e quando uma nova corrente sensual aparecer.

VII – As fontes da sexualidade infantil
As investigações realizadas por Freud sobre as origens profundas da sexualidade demonstram que a excitação sexual nasce: pela reprodução de uma satisfação experimentada em relação com processos orgânicos não sexuais; por excitação periférica das zonas erógenas; pelo efeito de certos impulsos cujas origens são desconhecidas, como os impulsos de ver e de crueldade.
As zonas erógenas encontram-se mais ou menos por toda a epiderme. As sacudidelas e os movimentos rítmicos, provocam excitações diferentes, daí as crianças gostarem de certos jogos, como o baloiço, de serem embaladas para adormecer e até mesmo andar de transportes. A actividade muscular exercida livremente é, para a criança, uma necessidade da qual tira um prazer considerável. Muitas pessoas verificam que sentiram uma primeira excitação do aparelho genital durante as lutas corpo a corpo visto que, para além da tensão de todos os músculos, veio juntar-se a acção excitante dos contactos da pele do adversário. Este comportamento pode também dar origem a um impulso sádico.
Os processos afectivos também se reflectem na sexualidade ao atingirem um determinado grau de intensidade, assim como o trabalho intelectual.

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande documento... Aliás se muitos o lessem, talvez soubessem mais acerca da teoria da sexualidade. E se em algumas partes discordo de Freud, algumas tenho de lhe dar razão... A infância é sem dúvida uma período onde a sexualidade está presente... concordo!
Bem, deixote um grande abraço, o teu trabalho está óptimo e daria pra muita conversa mesmo... até breve!