domingo, janeiro 24, 2010


Presas e Predadores suicidas

Faço-me perder na Cidade entre malabarismos de fogo e sombras velozes. São tão poucos os sinais, facilmente extintos nas almas de gente igualmente fácil. Não oferecidas, mas levianas no modo de pensar e agir, de vista turva sobre o trânsito das tarefas diárias. Também serei assim, hoje ou amanhã?
O meu passo apressado é a fuga de instinto selvagem a que me dou de modo automatizado. A lebre assustada que cheira os caminhos alheios e escuta o longínquo, só para não correr o risco de ser surpreendida por um qualquer gesto. Que predador terei guardado inconsciente, no sono reprimido e na vertigem exaltado?
E porque apenas me liberto em palavras silenciosas ao invés de confiar na sua expressão sonora quando empregue num simples verbo ou acção. Não sou bom actor, não tenho a arte de reciclar emoções em sensações causa-efeito. Se ganharem voz, moldam-se ao pensamento imediato. A sinceridade mata. E entre tantas coisas simplesmente humanas, sabe-me o risco da insónia ao mais profundo suspiro.
Pudesse eu ao menos ser a estável metamorfose fria a erguer-se da fantasia. Mas quem seria eu? Talvez outro humano na sua miserável insensibilidade afortunada. Será real essa existência ou apenas uma camuflada expressão de vulnerabilidade discreta? No fundo, a força, não os impede de morrer nos escombros do seu pensamento, é a utópica segurança desses audazes peregrinos, desses suicidas inconscientes.

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