terça-feira, fevereiro 05, 2008

Marcha Carnavalesca

É Carnaval. Tempo de loucos. Desfilam nas ruas putrefactas, com mil e uma caras que escondem a verdade, como sempre, mas com desculpa festiva.
Chovem serpentinas e confetis, lançados por um palhaço aparentemente feliz. Esconde a tristeza nas suas pinturas exageradamente extravagantes. E dança e gesticula expressões cómicas, soprando uma trompete de plástico colorida, já que a vida lhe roubou a voz e só assim se faz ouvir. Pobre palhaço. Tenta dar o que lhe roubaram, aquele sorriso genuíno ou uma gargalhada sincera.
Desaparece pelas saias saloias das varinas mas vestidas e assombrosas. Fedem a perfume barato e não é peixe o que vendem. Ou talvez seja, segundo dizem as más-línguas. Vêm de braço dado com anjos perversos e diabos de sorriso malicioso. É noite de festa. Depois de resto é o costume. Super heróis amedrontados, princesas sem dote, embebidas em vinho, génios da tabuada ou piratas de água doce.
As máscaras são variadas. Uns vestem-se do que podem. Outros do que queriam ser quando eram pequenos. Há aqueles que são o que sempre foram e recalcaram ao longo do ano. Por fim, os que cedem à extravagancia para que sejam vistos. São o que quiserem ser, num desfile insano e mal articulado. Dançam embriagados pela vontade obscura.
Parece que vejo todas as cores movimentando-se e misturando-se de forma berrante. Agonia-me. Sei que amanhã serão apenas uma: o preto. A cor da morte que se espalha nas ruas desertas, com o odor a álcool e vómito que fermentam nos passeios. É o presságio do fim das danças loucas, das gargalhadas insanas. E eu restrinjo-me ao olhar do silêncio.

1 comentário:

NetFliXer~ disse...

what's this about? Can u give an english answer to that..Just curious..