sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Olho a imagem oferecida pelo espelho, mas nela não encontro mais que uma sombra daquilo que sou, apenas uma sombra disforme que nem a mim agrada. Fecho os olhos, de punhos serrados, na tentativa de não cair no erro de me condenar a sete anos de má sorte. Mas porquê? Que adianta. Sou muito mais que isso, ou pelo menos julgo ser.
Já não me encontro e o quarto está escuro. Tacteio o vazio numa estranha vontade de encontrar o que não existe. Se existe eu não vejo. Estarei cego? Estarei senil? Talvez. Há momentos em que procuro o que poderia completar. Não procuro em mim, procuro no outro. Mas não existe nenhum outro se não eu, e isso não me chega, assim penso. Provavelmente não penso sequer, mas isso é outra questão que, sinceramente, não me interessa abordar, porque a noite já é suficientemente entediante e solitária para me deixar cair, a mim e a quem tais insanas palavras lê, num rasgo de bocejos e lágrimas adormecidas.
Não vejo, não saboreio, não sinto. E mais não digo. Talvez seja a dita castidade promíscua. Posso ver, saborear e sentir a carne, de tal não me privaram as más línguas, mas a carne é seca. E o sumo? Aquela vontade, aquela cumplicidade numa troca de olhares eróticos, aquele desejo de ser um todo, o toque que provoca arrepios escaldantes, ardendo todo o corpo e a alma num momento de infinito prazer.
Sei que não me devo deixar consumir pelo medo de me perder. Jamais poderei permitir que tal aconteça. Por isso refugio-me na espuma da rebentação das ondas, iluminadas pela Lua cheia, cheia de magia, cheia de sonhos, cheia de mim.

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