quarta-feira, março 05, 2008

- I -
O Despertar



A chuva finalmente a acordara. Escorria-lhe pela branca face, como pérolas perdidas. Abriu os olhos, da cor do mais doce e puro mel, e olhou à sua volta na tentativa de reconhecer o local. As trevas da noite envolviam a densa floresta em que se encontrava. A cabeça doía-lhe e sentia-se fraca. Não sabia onde estava. Tentou recorrer à sua memória, queria lembrar-se de como teria ido ali parar. O coração disparou: não sabia sequer quem era. Tinha a mente vazia de qualquer recordação. Sentia o corpo gelado, coberto por um top branco e uns calções curtos castanhos, ambos molhados e enlameados, assim como as botas que já não se distinguiam da lama. Reparou que, ao pescoço, transportava um cristal do tamanho de uma noz, que emitia uma ténue luz quente. Não podia continuar ali. Para a sua própria sobrevivência, o mais importante agora era encontrar um abrigo, depois poderia tentar chegar a uma conclusão lógica. Levantou-se e começou a andar pela floresta. Parecia-lhe tudo igual. Grandes árvores que se erguiam para as nuvens do céu, não mostrando qualquer sinal de vida. Pareciam feitas da mais fria e sombria pedra que alguma vez pudesse existir.
O tempo passava e sentia-se cada vez mais cansada e a cair em desespero. Nem mesmo os seus dezassete anos e o seu corpo atlético podiam suportar tanto esforço. Os seus longos cabelos pareciam chocolate a escorrer-lhe pela cara, dificultando-lhe a visão. Sem saber o que fazer, deixa-se cair de joelhos e abraça-se, agarrando as costelas, curvada para o chão. As lágrimas começam a escorrer-lhe pela cara, diluindo-se na chuva.
O seu soluçar interrompe-se quando escuta um uivo longo. Deixa-se ficar à escuta, silenciando todo o seu corpo. Um ruído vindo dos arbustos que se encontravam atrás de si fazem-na voltar-se, com os olhos carregados de lágrimas e medo. Destes surge um lobo, branco como a neve. Tenta correr, mas tropeça e cai no chão. O medo impede-a de se mover e limita-se a tremer, olhando para o lobo, aterrorizada. Este aproxima-se sem pressas. Afinal, a sua presa está demasiado assustada e fraca para fugir. O coração bate freneticamente e a respiração está descontrolada. Já não aguenta mais, nem forças tem para correr ou mesmo gritar. “Porquê?”, pergunta para si mesma, “é o fim”. Foi a última coisa em que pensou. Depois, os braços fraquejaram e deixaram que o corpo se estendesse na terra fria, inanimado.

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