quarta-feira, dezembro 13, 2006

Um dia adornado de coisa nenhuma...

Este é mais um dia em que
Acordo para uma rotina.
Já estou tão acostumado
Que nem penso no que faço!
É certo que, na pior das hipóteses,
Eu apenas penso que penso,
Desconhecendo que, na verdade,
Não penso, finjo-o apenas.

Saio para a rua, gelada como sempre,
E caminho, sem saber, rumo ao destino
Que é tão certo como eu escrever
Ou pensar que escrevo.

Como estes dias me enjoam!
Abrir um livro, escrever o que alguém,
Alguém que eu nunca vi,
Pensou, escreveu, sentiu ou viveu,
Na esperança de mostrar que pensava.
Reconheço que não deixa de ser interessante,
Ser-me-á muito útil e construtivo;
O que me enjoa é a rotina!

Acabou! Por hoje já chega!
Já chega de sentir a presença
Destes que não sabem quem são,
Destes que caminham sem razão.

Desço aos infernos escondidos
Onde muitos entram, voltando a sair;
Onde se empurram e atropelam;
Onde a educação é desnecessária e fora de moda
Porque estamos no direito de espezinhar;
(Pelo menos é o que alguns julgam)
Este ar é abafado, com uma mistura de cheiros,
Cheiros a suor e a perfume barato e enjoativo.

Saio para o horror de uma cidade
Com cores, luzes e melodias hipócritas;
Embrulhos feitos com sorrisos cínicos
E oferecidos porque fica sempre bem…

Abrigo-me do frio, sei que a espera irá ser longa.
Enquanto caminho por montras adornadas,
Algo me desperta e aquece:
Uma música tocada num piano solitário,
Tocada para ninguém, a troco de nada,
Pelo gosto de tocar aquilo que sente
Ou que, um dia, alguém sentiu.
Sento-me só e escuto, sorvendo cada nota musical.

As conversas alheias perdem-se no vazio
De quem as dita, daqueles que são, eles próprios,
Vazios de sonhos, de alma, de vida e de razão
Julgando que isso é apenas um capricho desnecessário.

A noite prolonga-se com um maior interesse,
Com o gosto de saber falar de tudo
Ou de coisa nenhuma, mas saber do que se fala,
Na essência de cada palavra e de cada momento.
É assim que a noite termina, com vontade de sentir
Que, aquilo que não interessa (tudo ou quase tudo)
Se pode esquecer para abrir a mente aos sonhos,
Pois estes podem ser mais que fantasia…

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