sexta-feira, julho 25, 2008

Vontades

Anseio o rebentar das ondas serenas contra este corpo de ninguém, percorrendo e salgando o mais íntimo prazer. Escalda de ironias e pinturas abstractas. É a linha do horizonte para o desconhecido. E a areia quente nos meus pés, a ferida aberta de uma rocha consumida pelo tempo, caída em esquecimento para os que não a querem ver.
Sinto o gosto salgado nos meus lábios: é quente, quente como o sangue. Mas não derrama, não quer tingir o mar que acaricia a nudez da minha alma. Já me envolvem os cantares ancestrais. As ondas rebentam, subindo e descendo num ritmo incerto, firme, seguido pelo vento que arranha nas rochas e nos cabelos molhados. É o canto das sereias.
O sol cega-me. Fecho os olhos e entro no desconhecido. Está fria – num suspiro de prazer. E assim que me abraça a cintura, as mãos recolhem este líquido e encostam-se aos ombros. Escorre pela pele e deixo-me unir à sua imensidão. Penetro-o sem receios e vou-me afundando. Só depois volto a abrir os olhos. A mente fica mais leve, o coração sossega e o corpo descansa. Podia morrer assim, na entrega da alma ao mar, ficando o corpo frio para trás, como oferenda ao inferno.

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