quarta-feira, agosto 06, 2008


Some of my puzzle key


*
Amante ou amador?



Quanto mais penso no amor, maior é a complexidade das diferentes coisas que senti (e sinto) e que memorizei (recordo) de forma ingénua. Sim, é preciso ser-se ingénuo para poder amar. Não tomo a ingenuidade como um defeito, isto quando não elevada ao extremo, o que não é necessariamente o caso. E se o amante (aquele que ama) não se acha ingénuo, questione-se e questione o outro quanto à sua própria identidade.

**
Quem sou eu?

Eu assumo a minha ingenuidade. Como amante de quem escolhi, fui ingénuo. Na verdade, não fui eu que escolhi e também não fui escolhido. Aconteceu, como sempre acontece. Não se trata daquele dilema da virgindade roubada, outras pontes foram atravessadas e esperemos que mais encontre pelo caminho. Mas de todos os rios que atravessei, nenhum outro me mostrou tanta vida, tantos sentimentos, tantas emoções, tantos sonhos.

***

Destino?


Não sei se existe. Aterroriza-me a ideia de uma força maior. A ideia de seguir um caminho trilhado após o primeiro momento de existência ou mesmo antes. Cada passo de incerteza manipulada. Um passo, um sorriso – outro, uma lágrima – mais um, o desejo – tropeço, na fantasia – caio, a dor que não é física – levanto-me, e sigo o meu caminho. Ardem as feridas deste corpo suspenso por linhas invisíveis. E a alma não é de ninguém.


****

Gémeos e balança?


Duas faces, entre a Lua e o Mar. Oscila em pratos dourados, seguros pela cegueira. É desconcertante a mudança contínua de quem não sabe que as nuvens são feitas de açúcar e que a terra está coberta de espinhos. Ainda assim, as rosas brancas são mais belas quando manchadas de sangue. Quando um anjo cai no mundo dos vivos e tenta ser Homem, perde-se nas sombras e torna-se inconstante. Vive apenas nos sonhos que projecta à fantasia e à criatividade.

*****

Por que não esqueço?


As memórias seladas num olhar. Vejo todas as ruas pelas quais errei e aqueles com quem me cruzei. Os rostos e as expressões, as vozes que me invadem no silêncio. E sempre que me vejo é na 3ª pessoa e ela sorri para mim, ou chora comigo. Abraça o corpo despido sem qualquer pudor – conhecem-se bem. Depois consigo sentir na pele aquele toque marcante, nos lábios o gosto daquele primeiro beijo, a fraqueza e a ansiedade. Os batimentos cardíacos, a respiração, o calor.

******

Entre a carne e a alma?


As correntes são de prata e ferem-me sempre que tento libertar-me. Olhas-me silencioso e sem expressão. Chego a gostar da dor que sinto quando me puxas contra ti e rendo-me quando as nossas línguas se tocam. Deve ser do teu veneno. E enquanto percorres o meu corpo, que conheces melhor que ninguém, sinto o trespassar da lâmina, das costas ao coração, vezes sem conta, sarando quando a arrancas para que a possas cravar sempre que quiseres. Sei que gostas de provar o sabor da minha dor enquanto me consomes.


*******

Quantas são as palavras?


Faço do meu sangue a tinta e de um punhal a pena com que rasgo as palavras na minha pele. Soltam-se os gritos oprimidos num casulo de medos. A criança que se contorce enquanto o corpo ganha forma e a alma se expande aos limites do próprio ser. É um problema de expressão. A língua humana é limitada e confusa. Tantos signos para a mesma existência, um turbilhão de distinções sociais e culturais que só empobrecem a verdadeira essência. E ainda assim, é nelas que me escondo, liberto e defendo.

********

Por quem sou?

Aprender um olhar leva tempo até que possa haver nele cumplicidade. O que vês nos meus olhos? Podes ver todo o mundo que me ajudares a construir. Não me mostres um quadro dizendo que é um espelho. Com que tintas me pintas-te? Com que cores? Tudo pela verdade. A partilha de um sorriso ou de uma lágrima é como um botão de rosa sem espinhos, e ambos o seguram. Aceitas o que vez? Eu aceito o que vejo e dou-te a sinceridade.


*********

Gosto de…?


Sentir o vento nos cabelos, o sol a queimar-me a pele e a chuva a embeber o meu corpo, para depois cair de uma falésia e envolver-me no mar banhado pela lua. Aquele sono profundo que me entrega aos sonhos com que me construo. Quero o prazer da solidão e o ruído de uma praia deserta. A música alta, um cigarro aceso, um copo cheio e o prazer dos amigos. Cheirar os perfumes das flores do campo e lançar-me nas nuvens brancas num céu azul. O mundo como um eterno prazer de tequila com sal e limão.

**********

Qual a verdade?


Procuro-me todos os dias. O que há para além do tempo? Não existo e tudo o resto é uma ilusão; a carne é apenas uma ilusão; os sentidos, o que é sentir? A diferença é condenada. Desintegro-me em grãos de areia, num espectro de loucura com um olhar insano. E tudo para me encontrar. Ser mais que fragmentos de algo inacabado. Ser um todo num só gesto. Abraçar o corpo, abraçar a alma, abraçar-me sem recear o futuro. Contudo ainda me sinto distante dessa realidade. Nem eu sei quem sou.

E para trás, o que restou? Um pouco de tudo, um pouco de nada. A loucura oferece uma visão que tenta a levantar questões tão complexas quanto insanas. E quanto mais questionamos, mais loucos ficamos. É um ciclo vicioso. Cada um vê como quer, outros fingem que vêm e outros fingem não ver. Eu simplesmente vejo. Agora, o que vejo, nem eu sei…

3 comentários:

AFSC disse...

Forte o que escreveste. Parabéns pela escolha das imagens. Divinal.
Hugs.

Andr3 disse...

Holla!
É grande o post, mas tive gosto em lê-lo..a tua escrita é simples e flui muito bem ao ser lida, e acho que já te tinha dito que a tua forma de fazer/escrever poesia não se apresenta como tal, assim torna-se mais aprazível! (para mim)

Notei alguma vontade de viver, de aprender..tas numa fase de revelação de ti próprio; vontade de ter a tua propria visão do mundo e da forma como o vivemos, talvez. (pelo meu entendimento, desculpa se falo de coisas so a ti dizem respeito!)
É uma acontecimento normal, e que todos queremos vir a descobrir!
Viver sem medo, amar sem restrição, ser ingénuo no momento certo, só nos vai levar ao encontro do nosso Ser! Será assim até ao fim da nossa vida, axo eu...

Espero conseguir viver tempo suficiente p saber se assim o é! Ao menos tenho tentado encontrar a melhor forma de habitar, e da mais genuína possivel! :)

Um abraço. Continuação de um bom tempo quente. Boa semana

Anónimo disse...

Bom, nem sei mesmo o que dizer. Li e reli o poema e é das peças que mais marcou a minha existência.

Algo em ti é (ainda)genuino nos tempos que atravessamos, onde o mundo nos faz entrar em corredores não desejados.

Continua assim e marcarás a tua passagem nesta tua existência, de uma forma profunda e equilibrada.

Precisamos de pensadores, de poetas, de simples almas que "encharquem" o nosso mundo de palavras soltas...

Terás sempre o meu apoio, critico e constante, como só assim sei ser.

sabes quem eu sou...