segunda-feira, abril 07, 2008


O Dragão e a Lebre

- I -

Naquela noite a Lua fê-la sair da sua toca. Sempre gostara de a apreciar, de se ver envolvida pela sua luz, mas o medo dos predadores obrigavam-na a refugiar-se. Mas desta vez não conseguiu resistir e dirigiu-se para onde a pudesse observar melhor. Ao chegar ao Vale da Estrelas, deixou-se ficar, entre flores silvestres que se movimentavam ao sabor da suave brisa primaveril, libertando doces fragrâncias. Cedeu então ao brilho majestoso, perdendo-se na imensidão dos seus humildes sonhos.
Foi então que um vulto fez despertar os seus sentidos. Olhou para traz e a visão oferecida pelos seus olhos fê-la paralisar. Estava diante de um Dragão. Este olhava-a silenciosamente sem qualquer movimento que não a sua respiração. Por breves momentos, ficaram parados, olhando um para o outro: a Lebre porque receava pela sua segurança e o Dragão pela curiosidade. Ao ver que assustava a Lebre, voltou-se para a Lua, contemplando-a. “É o momento ideal para fugir”, pensou a lebre, mas não o conseguiu fazer. Intrigava-a a estranha paz do Dragão e os seus olhos de sonhador. Deixou-se ficar também.
- Porque estás aqui? – perguntou o Dragão, fazendo a Lebre tremer novamente.
- Vim observar a Lua, que há tanto tempo não o fazia. Faz-me sonhar! E tu?
- Também tenho o mesmo gosto, de sonhar incessantemente, sempre na ânsia de querer mais.
- Não me vais fazer mal?
- Descansa, enquanto aqui estiver poderás apreciar o momento que tanto ansiavas. Não temas por mim, mas pelos outros.
Fez-se novamente silêncio. Apenas as melodias nocturnas os envolviam. E desejaram que assim fosse, por mais um pouco.
Antecipadamente, a lembrança da sua segurança fez com que a Lebre sentisse a necessidade de se apressar. Despediu-se do Dragão, prometendo voltar no dia seguinte. O Dragão sorriu docemente, vendo a Lebre afastar-se. Talvez assim fosse o destino. Nunca se sabe o que a magia de um sonho pode trazer. E melhor que sonhar, é partilhar os mesmos.

1 comentário:

Óhraesisstrákur disse...

O sonho comanda a vida. Mas há coisas tão boas que mal se conseguem sonhar - até as encontrarmos.