quarta-feira, abril 16, 2008


O Dragão e a Lebre

V

Durante a viagem até à fronteira da Floresta Proibida mantiveram-se em silêncio. As palavras proferidas pelo sábio Mocho inundavam-lhes os pensamentos, criando dúvidas que erguiam entraves à sua aproximação. O Dragão temia pela segurança da Lebre. Também a confiança que esta depositara nele poderia vir a desvanecer-se. Provavelmente não voltaria a olhá-lo da mesma forma, deixando-se consumir pelo seu próprio medo primitivo, aquele instinto de sobrevivência tão comum nas da sua espécie. Notara a exitação sentida ao subir para o seu dorso, o que mostrava um certo enfraquecimento nos laços estabelecidos e na cumplicidade existente entre ambos. A Lebre olhava para as nuvens que escondiam o cume de uma montanha distante, debatendo-se perante a tensão de um segredo por descobrir. A sua natural curiosidade comprometia a sua própria vontade. Os avisos do Mocho tinham a sua razão de ser, mas não conseguia consentir que o medo e a cobardia vencessem, não desta vez. Era-lhes ocultada a verdade e sentia-se no direito de desvendar este mistério. Poderia arriscar voltar à clareira da Grande Árvore durante a noite, mas teria de aguardar pela próxima Lua cheia, só assim se sentiria minimamente segura. Mas não podia esperar tanto tempo. Constatou que se aproximavam da fronteira. Tinha de falar com o Dragão. Também ele era a chave de tudo.
O Dragão deixou que a Lebre descesse do seu dorso. Provavelmente será a despedida, pensava para consigo mesmo. E quando se dirigia à Lebre:
- Temos de nos encontrar esta noite. – disse a Lebre num tom decidido. – É imperativo tentar entender as palavras do Mocho e descobrir a verdade.
Estupefacto pela reacção da Lebre, o Dragão apenas acenou afirmativamente, sugerindo que se encontrassem no Vale das Estrelas.
Despediram-se e seguiram os seus caminhos de regresso, ansiando o reencontro nocturno.

2 comentários:

Óhraesisstrákur disse...

Um caminho, por mais escuro que seja, é menos difícil de trilhar quando não se está sozinho. E as respostas, por vezes, encontram-se no sítio menos evidente: à vista de todos.

AFSC disse...

Gostei do texto.Continuas a escrever lindamente, dá notícias..

Um Abraço